Baixaria Sonora – Saudade
Jean Paz escreve sua coluna Baixaria Sonora todas as terças-feiras aqui, na Expedição CoMMúsica. Leia mais textos do Jean no blog Baixaria Sonora.
Baixaria Sonora – Saudade
Na semana passada, escrevi sobre o meu Vício na banda The Last Internationale.
A partir dessa coluna, resolvi criar uma trilogia, em que abordarei questões que se fazem presentes desde que a quarentena começou.
E hoje falarei sobre a Saudade.
Esse substantivo feminino que se aplica a sentimentos melancólicos causados pelo afastamento pessoas, coisas ou lugares, ou pela ausência de experiências prazerosas já vividas.
Na coluna de hoje falarei sobre bandas que tive o prazer de ver ao vivo, e que deixaram muitas saudades.
Começarei pelas Radioativas, com quem tive o prazer de dividir um Line up em meados de 2010 no Festival Banana Pop, que rolou no Ceu Aricanduva.
Na época eu tocava numa banda de rock psicodélico/classic rock chamada “Desregramento dos Sentidos”.
Cruzamos com as meninas na montagem do palco. Trocamos umas ideias, e rolou uma simpatia instantânea.
Principalemente pela vocalista, Tati “The Sexmaker” Bassi.
Não lembro exatamente se tocamos antes ou depois delas, mas lembro que a apresentação das meninas foi hipnótica.
O som remetia às Runnaways, e a vocalista dava tudo de si no palco.
Alguns anos depois fui vê-las no finado Astronete, bar de rock localizado no início da Rua Augusta cujos preços das cervejas levavam qualquer um à falência.
A banda já tinha uma outra formação e estava lançando seu primeiro disco pelo Selo Baratos Afins.
E mais uma vez elas não decepcionaram: o show foi uma selvageria do início ao fim.
Nesse meio tempo, elas lançaram clipe, apareceram no saudoso programa televiso do príncipe Ronnie Von e, de repente, não mais que de repente, a banda acabou.
Confiram o clipe de “Cuidado Garota”, música carro chefe do disco homônimo lançado em 2014.
O ano era 2017 e eu buscava referências para um novo trabalho musical que estava criando.
Um trio de rock Psicodélico chamado Psychotria. E acabei me deparando com outra banda de São Paulo que tinha uma pegada ímpar, o quarteto Molodoys.
Em setembro do ano anterior a banda havia lançado seu primeiro disco, o Tropicaos, repleto de elementos da cultura brasileira em sua sonoridade.
Foi paixão à primeira audição.
Além do experimentalismo, outros dois fatores chamavam muito a atenção: a guitarra mais do que estilosa do vocalista Leo Fázio e a peculiaridade de sua voz, extremamente rouca.
(Um dia eu ouvia um som da banda na minha mesa de trabalho e um colega, ao ouvir uma estrofe perguntou se o vocalista era filho do Serguei).
Como tudo está interligado, na semana seguinte eles iriam se apresentar no estúdio Lâmina, localizado no centro de São Paulo, a alguns metros da minha casa. E tive o prazer de vê-los ao vivo, e fiquei encantado com a apresentação, que reproduzia fielmente toda a energia e a magia do disco.
E a banda tinha uma presença de palco incrível.
Deixo aqui o meu clipe/música preferida da banda, a Boitatá, presente no já citado Tropicaos.
Sabe aquela velha máxima do “Quem sabe faz ao vivo”?
Pois é. Ela se aplica rigorosamente ao Grande Grupo Viajante, banda que viajava física e musicalmente por vários lugares, e animou muitos passeios a céu aberto, nos tempos em que podíamos nos aglomerarmos na Avenida Paulista.
O show se constituía de músicas dançantes, repletas de swing, linhas de baixo marcantes e intervenções precisas de instrumentos de sopros.
E a banda ainda tinha um vocalista que esbanjava talento e carisma.
Seu primeiro disco, “Todas as Cores”foi fruto de um financiamento coletivo, e reúne grandes canções, como ‘Coisa Fina’, ‘Samba de Stela’ e ‘Obrá de Miró’, um maravilhoso carimbó cujo clipe vocês podem assistir aqui:
Quando a Desregramento dos Sentidos acabou, fiquei meio sem chão. Mas eu, o Isac e a Luh, que formávamos a espinha dorsal do grupo nos articulamos e em pouco tempo havíamos reunido outros músicos com as mesmas ambições.
Fizemos uns ajustes no som, colocamos mais música brasileira e em pouco tempo, influenciado pela Nação Zumbi e pelos Novos Baianos, nasceu a banda Carcaráz.
Considero ela minha maturidade musical.
Com os Carcaráz toquei em outras cidades, conheci pessoas, dei entrevistas, e fiz shows históricos. Destaques para shows em Ferraz de Vasconcelos, em Santos, em Bragança Paulista e o último, na Festa Junina do Minhocão.
Na semana seguinte à apresentação, um integrante que havia chegado para somar e que só tinha subtraído, demostrou toda a sua insatisfação com o atual momento da banda, decidiu que iria sair.
E como cada integrante estava vivendo um momento conturbado, achamos melhor dar um tempo.
Ensaíamos alguns retornos, que não duraram mais do que conversas.
Já faz sete anos que a banda acabou. Mas restaram muitas lembranças boas. E uma saudade que mal cabe no peito.
E esse clipe para nosso Single ‘Ei Rapaz’, feito com muito amor, cerveja e suor.
Baixaria Sonora – Saudade, texto de Jean Paz.