Estação Black * Woddy Funk – Uma Japinha no Funk
Por Marcelo Kurts
Existe Funk no Japão?
Esse é um questionamento sem nexo partindo do pressuposto de que a música é universal e que a internet é a responsável direta pela democratização musical ocorrente no planeta.
Absolutamente! O estilo musical criado por James Brown e embalado por bandas como Cameo, Funkadelic, One Way, Bar-Kays, Com Funk Shun, Ohio Players, Gap Band e Zapp and Roger chegou à terra do sol nascente deixando suas raízes.
Vale ressaltar que não estamos falando do ritmo regional criado no Rio de Janeiro que se alastrou pelo Brasil apropriando-se do termo Funk. Em outra oportunidade falarei sobre esse estilo musical brasileiro que surgiu por influência do Miami Bass e Miami Freestyle (subgêneros musicais do Hip Hop do sul dos Estados Unidos).
O papo agora é sobre o Original Funk de uma nipônica amante de Lauryn Hill e Roger Troutman que mantém a chama da cultura negra acesa no Japão.
A cantora, musicista e instrutora de piano Akiko Muto, conhecida mundialmente por Woddy Funk, é uma das maiores representatividades feminina do estilo musical que Michael Jackson e Prince propagaram ao mundo.
Peraí ! Uma japonesa que canta Funk?
Sim, uma excelente cantora, detentora de habilidade no uso do Talk Box (mangueira acoplada a um pedal que emite um som melódico e robotizado por meio de um sintetizador ou instrumento de corda), uma artista que possui uma brilhante carreira tendo tocado até nos Estados Unidos ao lado de mestres da música norte-americana.
Conheci o trabalho musical de Woddy em 2012, por intermédio do DJ e web radialista Marcilio Zapp Man, na ocasião ela estava lançando o álbum What’s my name, cuja canção Ya-sha-shi-ku (suavemente em português) chamou-me a atenção por ser uma Slow Jam melosa e harmônica que lembrava as canções de Roger e sua banda Zapp.
Nesse álbum, além de outras tracks como Beautiful Days e Mr DJ, podemos conferir também Dance and get your Funky on que conta com a participação especial do tecladista e vocalista Greg Jackson que fez parte da primeira formação da Zapp Band. Nessa “feat”, Greg, que cantou em dueto com Woddy foi também o produtor musical dessa faixa que o mesmo me enviou por e-mail no ano de lançamento.
Em 25 de abril (2021), noite no Brasil e manhã no Japão, por conta do fuso horário, Kurts e Woody bateram um papo por meio de uma rede social.
Confira a conversa da Estação Black – com Woddy Funk – Uma Japinha no Funk
Kurts: Como você se interessou pela música negra dos Estados Unidos?
Woddy: Comecei a tocar piano aos 3 anos de idade, em seguida a cantar músicas da Lauryn Hill (vocalista do grupo The Fugees). Ela foi minha primeira deusa musical e a próxima foi Marva Whitney, aos poucos comecei a me interessar pela Funk Music. Andei pela real estrada do P FUNK até chegar na banda ZAPP. Eu penso que é isso !
Kurts: Como é fazer esse estilo musical em um país com uma cultura oposta à dos americanos? Você já tocou nos Estados Unidos?
Woody: O verdadeiro Funk não é popular no Japão. Funk Music é para poucos malucos no Japão. Sim, toquei sete vezes na América de 2011 a 2019.Nessa época, eu estava cercada por músicos Funk maravilhosos.
Kurts: Você conhece a cultura do Brasil? Já ouviu falar do Funk Brasileiro?
Woody: Eu gosto do Brasil, mas só conheço o futebol, o herói brasileiro, Zico está no Japão agora. Não sei muito sobre o rítmo no Brasil, quero que você me fale sobre o Funk brasileiro.
Kurts: No Japão, o Funk tem algo a ver com a cultura Hip Hop?
Woody: Ambos são irmãos, pais e filhos. A respeito, talvez poucas pessoas no Japão não pensem nisso.
Kurts: Eu vejo em suas músicas uma forte influência da banda Zapp, você gravou uma música com o tecladista Greg Jackson (membro da primeira formação do Zapp). Como foi essa conexão?
Woody:Em 2010, ele me assistiu tocando no YouTube e disse-me, por que não fazemos uma música juntos ? Vou te produzir. Eu disse “Claro!”
Kurts: No ano de 1989, Roger Troutman esteve no Brasil com a banda Zapp e ao participar de uma entrevista em uma estação de rádio mencionou o Japão como um país acolhedor. Você foi a um show da banda Zapp no Japão?
Woody: Roger é meu deus, estou 100% sob sua influência. Mas eu era muito jovem para poder conhecê-lo.
Kurts: A pandemia mundial trouxe grandes problemas para músicos no Brasil, como estão sobrevivendo os artistas do Japão ? Existe alguma ajuda do governo?
Woody: Sobre o grande incidente, eu penso que a situação no Japão é a mesma que no mundo.Sim, o governo japonês ajuda nossos músicos, mas insuficientemente.
Kurts: Em minha infância, eu gostava de assistir a séries japonesas como Jaspion, Changeman, Ultramam, Ultraseven. Você assiste a séries tokusatsu?
Woody: Penso que Tokusatsu é uma cultura e uma arte das quais o Japão se orgulha. Mas eu era uma menininha na época, então não os vi.
Kurts: Além de cantar e tocar, você tem outra profissão? Você tem algum curso superior de educação?Por exemplo, sou DJ, diretor de uma gravadora de Hip Hop, escrevo artigos e textos e dou aula de História. Você sobrevive da música ou desenvolve outra função?
Woody: Estudei em uma universidade de música japonesa, além de cantora e musicista, também sou treinadora (coach) de piano.
Kurts: No Brasil, entendemos que o sistema educacional do Japão é muito importante. Certa vez li em uma história que até o imperador japonês reverencia os professores. Isso é real?
Woody: Também acho que o sistema educacional japonês é maravilhoso. Mas gostaria de acrescentar uma educação que enriquece mais a imaginação. Desculpe, eu não sei muito sobre essa história do imperador.
Akiko Muto – Facebook