Estação Black: Sweet Lee e o protagonismo do rap feminino

Estação Black: Sweet Lee e o protagonismo do rap feminino

Editor – Marcelo Kurts

Por Marcelo Kurts

Hoje, no Estação Black, falaremos sobre uma personagem muito importante para o hip hop brasileiro que nos anos 90 protagonizou a cena do rap feminino que atravessava uma fase bastante machista.

Eliana Ruiz Lopes, conhecida no universo da música urbana como Sweet Lee, iniciou sua trajetória musical por volta de 1987, quando frequentava os bailes do Tios Sam Club em Santana e bailes da equipe Chic Show, onde se encantou pelos raps de Pepeu e Ndee Naldinho.

Lee foi uma das primeiras mulheres a gravar um rap através da coletânea musical Ritmo Quente, da gravadora Kaskatas Records, no ano de 1991. Ela cantava seus sentimentos e suas perspectivas com letras de fácil assimilação. 

Em 1992, eis que seu EP era lançado também pelo selo Kaskatas, onde o renomado Rafael Santoro, popular DJ Raffa, produziu Dance comigo que se tornou hit dançante da época, sendo executado em estações de rádios que tinham programações de rap e música eletrônica. Esse LP foi o primeiro da história do hip hop brasileiro a ser gravado por uma mulher.

Atualmente, Sweet Lee vive no sul dos Estados Unidos, levando uma vida longe dos palcos, porém sem deixar de lado o seu gosto pelo rap, através de um bate papo me confidenciou ouvir rap sendo RZO, Racionais MCs, Sabotage e SNJ alguns de seus artistas favoritos.

Num bate papo virtual, ela nos contou sua história e vivência dentro de um cenário musical dominado por homens, mas que não tirou seu mérito e sua participação importante dentro da cultura de rua.

Estaçao Black: Sweet Lee e o protagonismo do rap feminino

1 – Para iniciarmos nosso bate papo, por onde andou Sweet Lee durante esse longo período longe do Rap ?

Entre São Paulo e Estados Unidos, hoje moro na Flórida mas mesmo estando longe do Rap, morei por muitos anos em São Paulo.

Sweet Lee

2 – Conte-nos um pouco de sua trajetória na cultura hip hop.

Frequentava os bailes Blacks em São Paulo, em 1987 no Tio Sam Club vi o primeiro cara cantando, era o Pepeu com o Rap do Sebastião e achei o máximo, aí em outra ocasião voltando de um baile da Chic Show após ter visto Naldinho e Batista se apresentar, dentro  do metrô voltando pra casa com duas amigas, uma delas me disse vamos fazer um Rap? Na verdade tudo comecou numa brincadeira de amigas e a partir daí as coisas foram acontecendo.

3 – Você participou de uma coletânea musical no início dos anos 90. Lembro de algumas canções como “Sou Sweet Lee e Comando Multidões” bastante executadas no programa Rítmo Quente (equipe Kaskatas) e no Projeto Rap Brasil (Metrô FM), apresentado pelo DJ Armando Martins da Circuit Power. Sente saudade dessa época?

Wow, muitas saudades, costumo dizer que foi uma das melhores épocas da minha vida.

4 – Nos anos 90, havia uma divisão entre o pessoal dos bailes e aqueles que frequentavam o point de Hip Hop da estação São Bento do metrô, tanto que foram lançados dois LP de Rap com nomes semelhantes (Cultura de rua e O som das ruas). Você transitava musicalmente por algumas dessas vias ?

Sim, fazia parte do som das ruas (Chic Show), na verdade, eu fazia parte de um grupo que se chamava Faces do Rap e teríamos uma faixa nessa coletânea mas por algum motivo creio que um desentendimento do líder do grupo com o Luizão da Chic Show, fomos cortados e resolvi seguir solo.

5 – Você fez parte de uma geração em que as mulheres eram sempre atacadas em letras de rap, entre as MCs e Rappers já existia o conceito de feminismo e de luta por direitos iguais ?

Na verdade, eu não sentia isso não! Era outra época, a galera do hip hop era mais unida, Claro que sempre teve competicão e o grupinho do  contra que gostava de criticar, era algo mais em torno de Rap e Poesia, Rap radical e protesto.

6 – A canção “Dance Comigo” foi executada em rádios que não tocavam rap nos anos 90. Essa música tinha uma semelhança de sonoridade e harmonia com a clássica “This Beat is hot” do grupo B.G the Prince of Rap. De quem foi a ideia de fazer uma versão brasileira, sua ou de seu produtor ?

Isso foi ideia do Karlinhos da Kaskatas e o DJ Raffa fez a producão, a princípio eu não queria gravar House, pois eu era do hip hop e não curtia esse estilo, mas ele quis assim para vender no lado dos boys e acabou que deu certo, por essa música fiz shows em lugares que o rap não entrava.

Estaçao Black: Sweet Lee e o protagonismo do rap feminino
 

7 – Você sofria algum tipo de preconceito ou exclusão por ser mulher, branca e cantora de Rap ?

Eu nasci na periferia, curti todos os bailes blacks de Sampa, pra mim era tudo normal, era o que eu gostava e estava acostumada a fazer e sempre fui acolhida.

8 -Como você tem encarado essa pandemia que assola o planeta ? Mesmo    estando longe do Brasil tem acompanhado a crise ocorrente no país por conta da Covid-19 ?

Sim eu acompanho pelos jornais,  sinto que como sempre a classe menos favorecida é a mais afetada, infelizmente, morre mais gente na  periferia por não ter acesso a um sistema de saúde decente e por não  poder seguir o protocolo, pois precisam se expor para garantir seu sustento. Resumindo, no Brasil morre muito mais pobre do que classe média alta.

9 – De que forma observa a cena hip hop do Brasil e dos EUA, já que tu vive agora na terra do Tio Sam ?

A diferença que aqui é muito mais valorizado e quando alcança sucesso eles conseguem enriquecer e viver somente do rap, no Brasil não… $$$

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Sweet Lee

10 – Você ainda faz rap ? O que tem ouvido atualmente ?

Olha, o rap sempre vai estar em mim! Fazer rap eu faço, mas não profissionalmente, continuo sendo old school, gosto mesmo das antigas, não sou muito familiarizada com o que toca agora, no meu carro escuto Racionais, RZO, SNJ, Sabotagem e outros mais.

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Tenho muito orgulho de ter feito parte dessa cultura maravilhosa que é o hip hop e sou muito agradecida por ter pessoas como você, que não deixam a cultura morrer.

Kurts – Obrigado Mi lady !

Vídeo Sweet Lee

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Expedição CoMMúsica

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