Nosso primeiro momento como banda que compreende-se início de 1985 até meados de 1986. Foi o momento de pesquisa e busca por uma identidade e direcionamento, até que decidimos o que queríamos e logo tivemos de mudar a formação para seguir com o objetivo focado no punk HC, com temáticas libertárias, ácratas.
Decidimos recrutar um novo baixista e Marcelo Gaspar que ocupava a posição de baixista assumiria então as guitarras e foi daí em diante que logo produziríamos nossa primeira demo caseira.
Da formação inicial nada temos gravado, foi um período necessário, porém curto. Depois de vários momentos, inúmeros shows e demos lançadas, veio então nosso primeiro LP em 1994, quando éramos o que todos consideram a formação clássica: Toni Almada, Silvio Sub, Marlio Bolinha e Marcelo Inseto.
Decidimos que tais letras os crédito seriam da banda e é só ir ao vinil pra ver que no mesmo não existe nenhuma música creditada no meu nome nem no nome de alguém da banda, nem por isso deixei de ver cada letra da banda como composição desse ou daquele integrante que compôs para a Karne Krua. E ainda que qualquer letra escrita por alguém na banda, para a banda, não represente mais suas ideias, ainda que sejam falas da banda também, é só pedir que tiramos do nosso repertório, por enquanto a fala da Karne Krua continua sendo a mesma de 36 anos atrás.
Nossas músicas nunca foram músicas de consumo ou vinculadas em programação de rádios comuns, nossa música, com letras de conteúdo político e social nunca nos rendeu grana, nem quando em plataformas digitais pois somos do underground, o que vem é migalhas, centavos, temos muito mais gastos que retorno. Portanto eu não cobro isso da Karne Krua porquê sei qual é a verdade, porquê escolhi viver com isso, cada um faz suas escolhas na vida, as formações são parte da história de uma banda.
Financeiramente conseguimos com cachês simbólicos um aqui outro acolá, reverter recursos para nossos trabalhos, é pouco, sim, mas juntamos e vamos andando, lançando nossos álbuns muitas das vezes em caráter cooperativista. Nós somos aquele tipo de banda esquecida pelos órgãos públicos, pelos críticos musicais gourmet ou por aqueles que nos veem como anti-música ou coisa desagradável aos ouvidos.
36 anos em atividade evidenciando o nome de Sergipe mundo afora, diga-se de passagem, sem ufanismo da tal “sergipanidade” e sim porquê somos daqui e gostamos daqui. Fodam-se letra por letra: F.O.D.A.M.S.E assim mesmo!!!
Multiplicando cada letra dessa por dezenas de vezes a força, a luta, a união e a colaboração de outros pequenos selos nos deu força pra tirar esse álbum Primitiva da gaveta em meio a novas mudanças de formação e a chegada da pandemia.
O Primitiva é um álbum underground sim, não tivemos majors ou qualquer tipo de empresa ou agência financiando nada, pagamos gráfica, gravadora, eu montei o encarte como sempre fiz os fanzines e tive a ajuda do baixista atual (Ivo Delmondes na banda a mais de 10 anos) o qual fez a capa, além da grande ajuda de Alessandro Santana (Faz o Que Pode Produções) foi feito na raça como sempre foi a história da Karne Krua.
Tentamos espelhar vários momentos, não um único momento. Finalizo esse texto dizendo para aqueles que por algum momento se interessam pela Karne Krua que escutem a banda, entendam o porquê de algo duradouro, entendam não só um passado, enxerguem um presente e o futuro da banda dentro do que somos e onde vivemos como banda (meio), ou cena, como queiram.
Ao final entendo que fizemos um dos melhores álbuns da história da banda e do punk rock/HC nacional. Uma grande homenagem a própria banda, seu passado, presente e futuro que está por vir. O Primitiva se encontra disponível, assim como outros álbuns da banda e demos na Freedom Rua Santa Luzia 151 centro de Aracaju.