Propagassom #27 • Chico Lobo, Presente!

Chico Lobo – Presente!

Tributo a Chico Lobo, por Tom-K

Paulistano, produtor cultural, vídeo-documentarista, astrônomo amador e rádio aficionado, era assim que Chico Lobo se descrevia.

Chico Lobo Fez parte de várias bandas nos anos 70/80 na capital paulista, dentre elas Phanton Ship, Corsa Branca, Perfume Azul do Sol, Pedra do Sol e Voz do Brasil.

Foi responsável por muitas das imagens do Festival das Águas Claras em 1981, hoje amplamente divulgadas no documentário ” O Barato de Iacanga”.

Alguns depoimentos a seguir sobre sua trajetória:

“Não há um capítulo na história da radiodifusão comunitária no país que se possa abrir mão do nome de Chico Lobo. Seja como contribuição técnica, legal, mobilização, confrontos. Entusiasta, costuma orgulhar-se de haver “espetado quase 500 antenas” país afora, seja em favelas, universidades, eventos especiais…” 

Depoimento:

Armando Coelho Neto escreveu no Jornal GGN sobre a vida e a partida de Chico Lobo (clique na foto a seguir e será direcionado ao texto de Armando Coelho Neto sobre a partida de Chico Lobo)

Chico Lobo, por Tom-K

“Pedra do Sol era uma banda nascida no Bom Retiro por volta de 1975, formada por muitos amigos músicos daquele bairro, entre eles Sergio de Oliveira Malaka, José Luiz Adeve Cometa, José Pocai, Mario jackson, Oziel Gó, Elizete, eu e uma pá de outros amigos que conosco compunham músicas as quais nem mesmo nós saberíamos dizer que gênero que era. Um tipo de música brasileira com letras politicamente contundentes e uma pitada de tudo o que havia de brasilidade. Todos nós éramos muito jovens na época. Eu me lembro que essa banda participava muito de festivais musicais de escolas e éramos os “papa-taças”… tínhamos um vocal incrível em orfeon. Éramos pobres a ponto de não ter nem os próprios instrumentos, mas cantávamos e arranjávamos nossa música como ninguém, o que impressionava sobremaneira os jurados dos festivais.

A Voz do Brasil veio em meados da década de oitenta com o compositor Cometa, o guitarrista Edson Frank do grupo Prisma, Roberto Baldaconi no baixo, eu nos teclados, Branca de Neve na Bateria, Rita e Milange nos back vocais. Essa banda era mais madura, mais progressiva, mais quebradeira total, mais contundente… seguia um pouco a linha do Arrigo Barnabé, Frank Zappa. Passamos um ano ensaiando e gravando apenas quatro marcantes músicas.

“Chico Lobo, entrevista ao blog furia 2112: https://furia2112.blogspot.com/2021/05/entrevista-chico-loboperfume-azul-do.html

“O que pouca gente sabe é que ele realizou mais de dezenas de cursos de produção radiofônica, militou no MST, implantando rádios em assentamentos em cinco estados, ensinou o uso de equipamentos de radio-segurança para os companheiros do Movimento, escreveu duas apostilas completas sobre radiodifusão comunitária.

Foi e seguirá sendo uma das principais lideranças do movimento das rádios populares, livres e comunitárias de todos os tempos.

Destacava-se pela maestria no fazer comunicação popular e na firmeza política. Chico Lobo era militante respeitado até por quem não concordava com ele.”

Amarc Brasil.

https://amarcbrasil.com/nota-de-pesar-chico-lobo/?fbclid=IwAR37lZzAjvHVX9NREOqEICmjBw3sga6Wv60g-z77PkY39iIY1loeHJ5sFRg

Como descrito acima, Chico Lobo é um dos nomes mais importantes quando se trata de rádio comunitária, ou rádio livres, como gostava de chamar as iniciativas radiofônicas independentes. Fez elas onde pudesse e ou precisasse, em favelas, assentamentos, universidades, em eventos, festivais… Onde uma voz precisasse ser ouvida, lá estaria ele para modular as palavras em ondas de rádio.

Como músico e compositor fez parte de uma geração dos anos 70 e 80 da cidade de São Paulo, colaborando com diversas bandas, entre elas, o Perfume Azul do Sol, Pedra do Sol e Voz do Brasil, bandas que faziam parte do movimento Arueira, que contou com mais de 20 bandas através dos tempos e deu experiência para trabalhar com produção musical, ofício que começou no final dos anos 80.

Entre dar suporte com estúdio e vídeo para diversas bandas e diversos artistas da cena independente, Chico Lobo também voltava os olhos para o céu, tendo a astronomia mais uma de suas paixões, colaborando e incentivando as pessoas a conhecer mais os astros celestes.

No período da pandemia, abriu espaço em seu estúdio para que artistas pudessem fazer suas lives, momento no qual tive contato com esse grande ser humano, um entusiasta da liberdade, do pensamento progressista e da arte, que fez uma imensa contribuição em várias vertentes e que, infelizmente, não cabe em tão poucas palavras.

Chico Lobo se foi nos primeiros dias de Abril de 2022, sua obra, seu trabalhos, seu entusiasmo, proporcionou para muitas pessoas a chance de sair de um ciclo sistêmico onde a arte ou a capacidade de realizar e tolhida, contribui para que eu e muitos outros colegas que estão rádios independentes tivessem o direito e a certeza de que é possível ter voz e propagar ideias, músicas, iniciativas, cultura.

Sua obra o faz presente, assim cada vez que uma rádio livre no Brasil estiver no ar, uma banda independente começar, cada vez que você assistir o documentário “O Barato de Iacanga”, que tem imagens que ele fez e nos proporcionou sentir hoje o que foi aquele movimento.

Chico Lobo, Presente!

Hoje teremos músicas de três bandas das quais Chico Lobo fez parte, Perfume Azul do Sol, Pedra do Sol e Voz do Brasil.