Cavando Ideias – Beijos Cinematográficos

Cavando Ideias – Beijos Cinematográficos

Cavando Ideias – Beijos Cinematográficos é artigo de Silvia Ferreira Lima em sua coluna semanal

 

Fotografia da capa do livro de Ignácio de Loyola Brandão
Fotografia da capa do livro de Ignácio de Loyola Brandão

 

O Beijo não vem da boca

O livro de Ignácio de Loyola Brandão afirma que O beijo não vem da boca. Mas de onde vem, enfim? Talvez de bem mais longe ou mais profundo. Lembro de ter lido num dos romances de Rubem Fonseca Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos de 1988, o relato do protagonista de como conheceu sua ex-mulher, que no exato momento usava sapatos vermelhos. No livro, ela lhe questiona se o sentimento despertado pelos sapatos não teria relação com fetiche.

Sinceramente, quando li sobre isso eu não sabia o que era fetiche, porque afinal, ficar com alguém na minha juventude significava dar longos e gostosos beijos. Raras vezes também representava uns carinhos mais picantes, mas nada passava disso. Enquanto, hoje em dia, ficar pode significar ter sexo nesta relação. Claro que a conversa e a troca de ideias são sempre fundamentais. Mesmo porque uma pessoa inteligente nunca dispensa uma boa conversa e para a maioria das mulheres, a atenção, os gestos de carinho e cavalheirismo são sempre importantes. Bom, acho que estou julgando todas as mulheres por mim. Mas sei de muitas garotas que hoje em dia nem ficariam com uma cara que parece padrãozinho. Justamente porque isso traz junto todo um preconceito e atitudes que não são muito bem vindas pelos jovens de mente aberta. Ou seja, que acreditam na igualdade entre os sexos, na aceitação das escolhas sexuais ou afetivas. Enfim, liberdade é aceitação e empatia.

Lembro que o beijo, assim como a sensação de desejo despertada por ele, era arrebatadoramente carnal. O hálito do beijo, a maciez e o calor dos lábios fazia-me imaginar na concretização de uma relação sexual. Logo, um longo e quente beijo se não levava a uma relação sexual, pelo menos escancarava a porta para esta possibilidade. Uma boa noite de sexo começa com um longo e ardente beijo.

Da mesma forma, os sapatos vermelhos calçados por uma mulher que o protagonista desejava tinham relação com a vermelhidão do batom, assim como com os lábios, os pequenos e os grandes lábios. Isso já concretizaria a relação sexual no plano do imaginário e talvez do simbólico. Sempre depende de como cada sujeito percebe a situação e consegue separar a fantasia da realidade. Mas os sentimentos existem e são concretos.

 

Qualquer grande história de amor pode começar ou acabar com um beijo. O beijo pode ser de despedida, de interesse, de paixão, de traição. Sim, mesmo na Bíblia, já houve beijo de traição como a traição de Judas Iscariotes a Jesus Cristo. Podemos observar que a questão do beijo também tem conotação cultural. Assim, diferentes povos beijam diferentes pessoas em situações diferentes e com intuitos diferentes.

Existem os beijos dos pais nos filhos e nas filhas, demonstrando amor e proteção. Existem os beijos das mães, com o mesmo sentido, e até com expectativas de realização dos desejos maternos, como o caso de muitas mães. Existem os beijos entre irmãos, demonstrando a fraternidade e o companheirismo. Existem os beijos apaixonados.

 

Filme O Beijo da Mulher Aranha
Filme O Beijo da Mulher Aranha

Fazendo referência ao filme: O Beijo a Mulher Aranha, aliás, baseado no romance do autor argentino, Manuel Puig, que foi dirigido por Hector Babenco. Cujo enredo trata de dois prisioneiros: um prisioneiro político de nome Valentim (Raul Julia) e um vitrinista gay (William Hurt), preso por corrupção de menores. Companheiros de cela, eles desenvolvem um diálogo sobre filmes com mulheres sedutoras e perigosas, o que acaba por se transformar numa visão, sonho ou pesadelo de Valentim quando é torturado, em que a mulher amada é a aranha que vai devorar o que capturou em sua teia, o inseto que é justamente o prisioneiro político Valentim. O filme é cheio de alegorias, porém tanto o beijo companheiro e empático quanto o beijo sedutor e fatal existem nesta trama, que acaba por confundir a repressão sexual com a repressão política. Assim, pode-se escolher a interpretação dos fatos de acordo com o ponto de vista. E o mesmo ocorre quando existe o beijo carnal: significa atração rotineira ou paixão profunda?

Dependendo do ponto de vista do participante, um beijo pode ser uma atitude simples como pode ser uma atitude complexa. Resta saber como realmente a pessoa beijada se sente. O que se passa em sua cabeça. E que tipo de desejos este beijo desperta. Isso quando desperta desejos. Sim, nem todos os beijos despertam desejos. Mesmo entre pessoas heterossexuais de sexos opostos. Mesmo porque, nem todas as pessoas despertam os mesmos sentimentos em todos os outros. Basta experimentar trabalhar numa barraca de beijo. Assim como, alguém pode despertar seus mais profundos sentimentos. Na maioria dos casos, em repetidas vezes, apenas vai cansar os músculos faciais e desgastar os lábios.

 

Filme A um passo da eternidade Deborah Kerr e Burt Lancaster
Filme A um passo da eternidade Deborah Kerr e Burt Lancaster

 

Afinal, um beijo arrebatador nunca vem apenas da boca, mas de uma reação química mais complexa que se desenvolve entre pessoas com determinadas afinidades e sentimentos de completude. Um beijo entre Deborah Kerr e Burt Lancaster de tirar o fôlego (filme A um passo da eternidade de 1953), uma cena clássica de cinema, em que ambos se beijam ardentemente nas areias da praia, molhados pelas águas do mar. Quem assistiu a esta cena, jamais deixou de desejar um beijo desse jeito. Mesmo que, na realidade, o beijo não tenha sido tão bom assim.

 

Filme Casablanca com Humphrey Bogard e Ingrid Bergmann
Filme Casablanca com Humphrey Bogard e Ingrid Bergmann

 

Existe o grande último beijo como os contracenados por Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em Casablanca de 1942, que era um filme de despedida dos dois amantes. Ou ainda o clássico beijo de Clark Gable e Vivian Leigh em E o vento levou… de 1939. Estes beijos de cinema realmente tomam conta da fantasia de qualquer um. Principalmente, quando temos onze anos de idade e nunca beijamos um namorado ou namorada. Ficamos curiosos imaginando como deve ser o beijo. Lembro que eu e minhas amigas, curiosas, chegamos a ver uma revista sueca, daquelas únicas tão explícitas sobre sexo na década de 70. O pior foi que saímos da conversa com mais nojo do que nunca.

 

Cavando Ideias - Beijos Cinematográficos
Filme E o vento levou… com Clark Gable e Vivian Leigh

 

Apesar de tudo, lembro do meu primeiro beijo e das primeiras sensações. Foi molhado e incomodou um pouco. Mas quando lembro dos beijos que eu e meu companheiro trocamos, com certeza está no rol dos melhores. Acho que por isso resolvi viver com ele. Lábios macios, saborosos e ardentes. Realmente, o beijo não vem só da boca.

 

Referências:

Cavando Ideias – Beijos Cinematográficos

Filmes:

A um passo da eternidade

O Beijo da mulher Aranha

Casablanca

E o vento levou…

atores e atrizes: Deborah Kerr e Burt Lancaster; Raul Julia e William Hurt; Humphrey Bogard e Ingrid Bergmann; Clark Gable e Vivian Leigh

Vale a pena procurar os filmes acima e assistir. São clássicos cinematográficos de beijos

A Bíblia: Evangelho de Jesus Cristo segundo Matheus


Silvia Ferreira Lima tem seu portfólio no Mapa da Expedição.

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