Cavando ideias • Problema do Funcionário Público
Cavando ideias • Problema do Funcionário Público é artigo de Silvia Ferreira Lima em sua coluna semanal.
Eu começaria a semana com mais uma resenha de outro livro maravilhoso que estou lendo, se não tivesse que ter mobilizado minha vida atrás de leis de funcionalismo público, recorrendo pelo que não foi corretamente aplicado no meu caso e talvez em outros casos também.
Normalmente, a população tem acesso ao serviço do funcionário público, que como o nome já diz é aquele que serve o público, certamente, fazendo de forma competente e paciente na maioria dos casos, em que a população chega até ele culpando-o por alguma regra ou norma que está inadequada ou que o atinge de modo incorreto. Bem, neste momento, o funcionário o informa como agir, o que fazer, quais o caminhos percorrer. Claro que ele só não faz isso se não foi corretamente instruído ou informado para tanto.
Mas aquele civil que chega ao balcão já chega nervoso, culpando o pobre o trabalhador, igual a ele, que não tem culpa de nada, está ali apenas para ajudar, sem poder de fazer mais nada além disso. Confesso, que nos momentos em que precisei de um serviço público fui tão bem atendida, que me informaram inclusive da correta maneira de agir para ser ouvida. Por isso, jamais posso reclamar de nenhum destes serviços.
Entretanto, já presenciei um caminhão de obras e um trabalhador serem agredidos por uma senhora pedestre que reclamava das condições da rua. Ora, os trabalhadores da prefeitura estavam lá, justamente porque eu e meu marido tínhamos ido à prefeitura reclamar do buraco da rua, onde poderia cair até um caminhão e ficar preso lá dentro. Era um problema de encanamento da Sanasa, que tinha estourado, portanto, as obras de asfalto da rua, outro setor da prefeitura tiveram que ser acionados juntamente. E para sair cada serviço destes, o cidadão precisa ficar atento e entrar com recursos junto à prefeitura. Aliás, o cidadão, qualquer um deles tem o direito de entrar com um recurso com relação a qualquer lei que tenha sido indevidamente aplicada.
E Cavando Ideias discute o problema do funcionário público
Citando agora, uma questão mais próxima. Fiz concurso público em 2014. Minha classificação tinha sido entre as 32 primeiras, porém esqueci de enviar os diplomas de mestrado e doutorado; consequentemente, perdi a classificação. Sinceramente, achei a classificação ótima considerando que não tinha estudado nada, nem sequer olhei o que cairia nas provas. Apenas fui e respondi. Então, nem pensei mais nisso. Porém, em novembro de 2018, um mês depois que tinha entrado com pedido de aposentadoria por tempo de serviço (34 anos em sala de aula), fui convocada para assumir aulas na prefeitura de Campinas. Corri para fazer exames, localizar diplomas e certificados e apresentar tudo na data. Além de tomar as vacinas atrasadas e fazer exame médico. Entrei na sala de aula em 05 de fevereiro de 2019, para dar aulas no EJA do Cambará, que era um terreno expandido do Caic Naed Sudoeste.
Adorei minha experiência com EJA, público com o qual eu nunca tinha trabalhado antes. Aprendi muito com aqueles alunos cheios de experiências de vida que voltavam a estudar porque queriam realizar seus sonhos. Achei isso maravilhoso! E comecei de fato a conhecer a realidade dos alunos de prefeitura, principalmente, os de periferia. Mas tive uma experiência enriquecedora. No final do ano, a diretora do Caic abriu mão do espaço do Cambará, então fui trabalhar no EJA do CAIC. E comecei a ter alguns momentos de tensão com o assistente da diretora, pessoal com a qual eu trabalhava bem, mas que já pareceu bastante irritado quando descobriu que pela minha experiência e estudo, minha classificação estaria entre os primeiros professores do município, mesmo aqueles que já estavam se aposentando.
Lembro que meu colega, professor de matemática, sem entender por que no final das contas eu saí do Caic, comentou indignado como eu tinha saído de lá, se era quem tinha trabalhado mais durante 2020. E completou: “Silvia, não se deve aparecer demais!” Eu sempre fui teimosa, então, demorei um pouco para entender o que ele dizia. Mas ele tinha razão. Depois disso, ou ainda, durante 2020, comecei a trabalhar com apenas uma turma de 8º ano, no Padre Leão Vallerie e entendi o que era trabalhar com uma equipe qualificada e que tinha extrema preocupação em fazer um excelente trabalho. Amei trabalhar com eles. Aprendemos muito juntos e realizamos coisas maravilhosas. Também foi a época em que participei de um projeto do Naed Noroeste para EJA, o chamado Espaço Concordia, onde também trabalhei com muito amor e vontade. No final do ano, cheguei a produzir uma oficina com eles. Foi até então o melhor trabalho que eu já fiz, fosse em escola pública ou particular. Isso tudo mesmo com pandemia ou isolamento social.
Para mim, tudo se transformou quando meu pai morreu de covid-19 em maio. Bom, eu sou diabética insulino-dependente desde que tinha 20 anos e jamais imaginei que fosse considerada um dia alguém que tivesse comorbidade. Nem em sentia com vontade de morrer sem ter realizado o que eu queria ou gostava. Então, eu surtei. Surtei emocional, quimicamente, organicamente, como qualquer um pode imaginar. Fui aconselhada a pedir licença. Desenvolvi medo por me aproximar das pessoas e não sentia nenhuma necessidade de voltar às aulas presenciais, primeiro porque tinha dúvidas se era o que queria fazer da vida, se não preferia usar meu tempo para fazer o que eu mais gostasse como imprimir gravuras, escrever poesias, ler livros, ou fazer meu próprio livro de artista. um ano de remédio psiquiátrico, de terapia, de yoga, de meditação, de escrever meus artigos aqui e de fazer gravuras e estudar e fazer livros de artista. Estou para voltar à sala de aula. Por quê? Qualquer um pode perguntar.
Primeiro, porque a Supervisão de Estágio Probatório Promulgou uma lei de que para ter aprovado seus estágio o professor deveria possuir a saúde perfeita. Então, levei uma declaração da minha psiquiatra à perícia médica da prefeitura, levei minha carteira de vacinação atualizada, e tive aprovação de saúde para voltar à sala de aula. Além disso, entrei com um recurso na prefeitura, cuja Superintendência de Estágio Probatório não Publicou no Diário Oficial nem sequer o meu chamado para apresentação, apenas enviou uma carta registrada pelo correio. Também, não chamou a direção da escola em que eu estava trabalhando, isso de acordo com o depoimento do vice-diretor. Logo, como várias etapas da conclusão e aplicação desta lei de desligamento dos professores em estágio probatório, como era o meu caso, ficaram em falta. Além da falta de humanidade desta lei ter saído no momento do isolamento social, em que eles queriam justamente nos pressionar a voltar para a sala de aula, enquanto não havia nem vacina no Brasil.
Enfim, fomos desconsiderados, novamente, segundo os dizeres do Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, “bois de piranha”. Entrei com um recurso e de acordo com a lei, devo me reapresentar na escola hoje, mesmo que as minhas turmas já tenham sido passadas para outra professora. Eu que sofro de ansiedade, já vou dissolver meu Rivotril porque esta não será fácil, mesmo que a culpa não seja minha e que eu tenha sido ética o suficiente e avisar antecipadamente à direção.
Assim, a vida segue. Cito que no exame de perícia da prefeitura, a enfermeira verificou que tenho a pressão baixa de criança. Que maravilha! Ela disse. Em comparação, meu coração estava disparado. Foi como descobri a ansiedade, só que quando descobri, chegava a sentir dores no peito. Só Rivotril mesmo. Detalhe: Rivotril cria dependência, então, só o destino para momentos críticos como este.
Fazendo uma leitura de jogo de xadrez. A Prefeitura está louca para desligar professores a fim de colocar posteriormente num ano de eleição que empregaram um enorme número de professores. E lembrando de uma amiga Professora Adjunta: Silvia, o que você puder prejudicar o trabalho das autoridades da prefeitura, faça. Por que eles não facilitam o trabalho do povo. Nós é que trabalhamos pelo povo. Nós é que somos o povo. É bom todos sabermos disso, e espalharmos a verdade por todos os lados e cantos até chegarmos aos reais culpados dos problemas que enfrentamos.
“Conhecerei a verdade e ela vos libertará!” Jesus Cristo
PS.: Não sei como será, mas não abro mão dos meu sonhos!