Conta Comigo • Tropeçando em livros
Conta Comigo • Tropeçando em livros é artigo de Michele Fernandes em sua coluna semanal na Expedição CoMMúsica.
Depois de dois anos e alguns meses de restrições, a vida vai aos poucos voltando ao normal. Fiquei nostálgica quando, no último domingo, resolvi caminhar pela Praça da Alfândega, em Porto Alegre, visitando um espaço que faz parte da minha construção como leitora neste país em que tão pouco se lê. Lá está acontecendo, desde o dia 28/10 até 15/11, a Feira do Livro de Porto Alegre, evento na sua 68ª edição.
Sim, senti saudades, pois eu era acostumada a comparecer anualmente nesse evento, desde criança, quando andava de mãos dadas com a minha mãe, os meus olhos na altura dos expositores, a feira ainda sem a cobertura a ser incorporada anos depois devido às frequentes chuvas comuns nessa época do ano. Não saía de lá sem uma pequena sacola onde estariam os meus primeiros livros. Tempos depois, eu que andaria entre as bancas de mãos dadas com os meus filhos, transmitindo pela repetição e pelo espelho o amor pela leitura.
Em 2020, a feira foi virtual, pelos motivos sabidos, mas, no ano passado, voltou a acontecer de forma presencial. Não compareci porque considerei precipitação, já que ainda não estávamos devidamente imunizados. Apesar de o comércio estar ansioso para o retorno ao seu habitual lucro, talvez não tenha sido o sucesso esperado. Não acredito ter sido a única a ter lucidez sobre a impossibilidade de distanciamento social no apertado espaço entre as bancas. Mas este ano eu e outros leitores nos sentimos prontos para recomeçar, e o que encontramos foi uma Feira do Livro mais tímida, insegura, eu diria. O espaço era um pouco mais diminuto, os preços pareciam não ter acompanhado a inflação (para a alegria dos nossos bolsos) e uma grande aposta em livros usados.
Com isso, foi possível me divertir procurando preciosidades nos balaios promocionais. E encontrei! Levei para casa um livro (novinho em folha) que me custou a bagatela de três reais e outro usado em excelente estado pelo qual paguei dez, mas, conforme conferi na internet, o mesmo título custaria cerca de cento e cinquenta reais em uma edição nova – uma pequena dose de alegria em um mundo em recessão.
Fico refletindo sobre a importância desses eventos relacionados à literatura. Além de estimular o mercado livreiro, cumprem com o importante papel de formar novos leitores. Não foi à toa que comecei este artigo falando das minhas memórias. A Feira do Livro, assim como as bibliotecas e o incentivo dos meus pais e professores, me despertou o amor pelos livros.
Sinto falta de mais espaços como esses, de ver na TV mais reportagens sobre como os livros se relacionam com a vida da gente, de andar pelas ruas e olhar para qualquer lado e lá estarem eles, cheirinho de novo ou cheirinho de velho, cheios de cor ou já desbotados, com preço barato, ou só pegar e devolver ou deixar outro no lugar. Na minha casa não tinham muitos, mas eram valorizados; onde moro hoje tropeço nos livros e, ah, confesso… são os enfeites mais lindos da minha casa e também um belo diferencial para o outro meu lar – chamado mente.
Gostei do fato que vc explorou as possibilidades da relação de consumo. Eu sei que os escritores precisam vender seus livros, mas não posso ignorar que os livros são objetos que causam impacto no meio ambiente e sou adepta de sebos e trocas, este é um tema delicado quando se escreve, pois pode parecer que desestimula a compra do livro novo, mas por sua função, os livros precisam circular. Gostei de conhecer mais da sua relação com os livros 🤗