Composição vencedora de Andersen Viana é apresentada em Roma
Composição vencedora de Andersen Viana é apresentada em Roma. A obra é Quartetto d’archi n.2, em que o renomado professor, músico e compositor inova e recebe o merecido reconhecimento no exterior. No Brasil, quase não há possibilidades ou recursos para aprimoramento e divulgação da música, em sentido amplo. Conversamos com Andersen Viana mais uma vez e, como sempre, disponível e afiado na análise do cenário cultural brasileiro. E, sem rodeios, leiam a entrevista e confiram o projeto musical desse grande artista brasileiro.
São Paulo, 1º de fevereiro de 2023 – Gosto muito de ter a oportunidade de vez ou outra conversar com o amigo e apoiador do projeto da Expedição CoMMúsica, pessoa por quem tenho viva admiração. A cada entrevista, tento desvendar mais um pouco de seu universo tão particular, pois muito pouco há publicado no Brasil sobre sua extensa lista de prêmios, grande parte deles no exterior, ou sobre sua obra e projeto musical. A lembrança da fala de um dos professores de música que tive sempre ressoa: “Se quiser um LP de Villa Lobos, busque em uma lojinha de Portugal, mas não procure no Brasil. Não existem’. À época, década de 1980, eu comprava meus discos nas lojas Rua Teodoro Sampaio e não havia nenhum mesmo. As possibilidades aumentaram um tiquinho de nada nesses 50 anos, pois a peneira do gosto permanece atuante, seja para definir a estética que será vendida, seja para definir qual músico ou banda terá algum espaço na divulgação mais ampla. E seguimos conhecendo muito, mas muito pouco mesmo, de nossos grandes músicos.
A comunicação com Andersen Viana sempre se dá por escrito e prefiro, pois pode ter o tempo necessário à reflexão e sua comunicação é verdadeira, sem os eufemismos típicos do trato social mascarado.
O que motivou a nossa conversa foi a apresentação de sua composição ‘String Quartet 2’ em um concerto no auditório Parco della Musica Ennio Morricone, em Roma, Itália, sede da Accademia Nazionale de Santa Cecilia, no dia 25 de janeiro deste ano. A composição recebeu o prêmio Farulli 2021 e, com o prêmio, o vencedor tem não somente o diploma, mas também tem a impressão da partitura, divulgação e apresentações ao vivo, em audiovisual e em diversos formatos.
Andersen Viana é artista extremamente criativo, tanto na temática, quanto em execuções, as quais requerem profundo conhecimento e prática musical. Um de seus projetos, o Cinemusic, é uma amostra compilada de suas mais de 400 composições, todas disponíveis para uso comercial em trilhas sonoras.
Para contato com Andersen Viana https://www.instagram.com/andersenviana/
Composição vencedora de Andersen Viana é apresentada em Roma e o próprio artista conta sobre seu percurso de vida e projeto musical
EDNS – Você concorreu com mais de 200 compositores ao Prêmio Farulli e tem longa e sólida carreira, principalmente no exterior. Como você vê o trabalho do compositor no Brasil e os planos de incentivo à cultura e divulgação?
Andersen Viana – O Brasil sempre foi muito difícil para a “Música Acadêmica” ou, como dizem os italianos, “Musica Colta”. Sempre pretendi completar meus estudos no exterior e por diversas razões. Amplia-se a visão cultural, conhece-se outras maneiras de trabalhar, pensar, agir e ser, enfim, novas possibilidades profissionais surgem. Me preparei para isto, e em 1989, recebi o Scholarship Award da Berklee School of Music para estudar música para cinema em Boston-EUA (um dos professores era o renomado John Willians), mas desisti da Bolsa pois preferi me casar! (e isto com certeza foi o maior erro que cometi. Me sinto um otário toda vez que lembro disto!). Na sequência recebi uma bolsa de estudos da Arts Academy of Rome (1992) em composição musical, e desta vez parti com decisão para a Cidade Eterna, onde ficaria por cerca de dois anos, inclusive criando e dirigindo o Coro da Embaixada do Brasil, dedicado exclusivamente à música brasileira. Na Itália, cursei também música para cinema em duas outras academias: Academia Chigiana di Siena e Reale Academia Filarmonica di Bologna (onde W.A. Mozart também estudou quando adolescente). No ano de 1993, me candidatei ao Premio IILA (Istituto Italo-Latino Americano di Roma) e obtive o prestigioso Premio di Studio. Depois de um período de volta ao Brasil, recebo o convite para estudar por um ano no Royal College of Music in Stockholm (Suécia), onde me deparei com grandes desafios, especialmente aqueles relativos à digitalização musical e aspectos mais contemporâneos da música digital. Em 2001, enviei uma de minhas obras para banda sinfônica em um concurso na Bélgica e recebi o 1º Lugar no Prêmio Comines-Warneton. A este, outros se seguiram: Lambersart, Bilére (França), Valencia (Espanha), Susanville (EUA), Marga-Marga (Chile), Pampas (Argentina), Farulli (Itália), Shostakovich (Ucrânia) e Genzmer (Alemanha), para citar os mais relevantes.
Estas oportunidades são importantes – além da premiação em si e do diploma –, pois fazem com que as obras sejam tocadas, gravadas, filmadas, editadas e apresentadas ao público, saindo finalmente da gaveta do compositor. Não vejo possibilidades para minha obra aqui no Brasil, pelo menos por enquanto.
EDNS – Poderia comentar a execução da obra? Saberia se existe alguma outra obra com o mesmo recurso: cordas, em execução simultânea com voz, na criação de mais notas.
A execução da obra pelo Quarteto de jovens italianas semi-profissionais foi excelente! Além de qualquer expectativa. Fizemos um ensaio juntos nós cinco, através de Zoom e funcionou muitíssimo bem. Desenvolvi a técnica composicional do TOCADO-CANTADO no meu Balé Yin-Yang (inédito…), ainda na década de 80. Depois escrevi outras obras utilizando esta técnica e a utilizo até hoje. Não sei se outros compositores utilizaram isto antes, pode ser que sim, pode ser que não (não conheço tudo o que foi escrito antes de 80). Para termos esta informação, vamos precisar recorrer a um musicólogo de renome internacional, o finlandês Eero Tarasti … Pelo menos aqui no Brasil não…
A obra ‘String Quartet 2’ está disponível gratuitamente para audição no Soundcloud:
EDNS – Fique à vontade para acrescentar o que julgar conveniente
Pretendo continuar dando aulas no Cefart (Fundação Clóvis Salgado), onde ministro Cursos de Extensão de grande sucesso junto aos alunos, até junho de 2023 quando, teoricamente, me aposentarei depois de 38 anos de serviços prestados ao Estado brasileiro. Escrevi recentemente para Coro a Cappella, a obra ÚLTIMAS PALAVRAS (com as últimas palavras de George Floyd e Genivaldo de Jesus, antes de morrerem pelas mãos desastrosas e despreparadas do Estado), ainda aguardando algum coro interessado, além de ter finalizado uma peça para violão solo. Pretendo continuar me candidatando a todas as oportunidades que aparecem, seja no Brasil ou no exterior, com o objetivo de mostrar um trabalho autoral que conta com 45 anos de ininterruptos trabalhos criativos na área da música. Esforços para chegar até os intérpretes têm sido feitos quase que cotidianamente, o que também não é fácil, mas seguimos na luta até o fim, pelo menos por mais 15 anos.