Baixaria Sonora – Carta para Leandro
Jean Paz escreve a coluna Baixaria Sonora todas as terças-feiras e em seu blog, também Baixaria Sonora
Carta para Leandro
Confesso que no começo eu não gostava do teu trabalho.
Achava o nome meio pretensioso.
Exterminador de MC’s? Ah, vá?
Conta outra.
Ai caiu no meu colo um ingresso para o VMB. Não lembro bem o ano. Só sei que foi o último.
E de repente e não mais que de repente tu subiu no palco com o Projeto Nave.
Que chute no peito.
Soco no estômago.
Fodam-se vocês. E fodam-se suas leis.
O show acabou e me permiti à dúvida. Será que estive errado durante todo esse tempo?
Ai veio um ponto de virada na minha vida. Uma separação me tirou da zona de conforto e me permitiu rever conceitos e conhecer pessoas.
E algumas pessoas me mostraram o quanto eu era idiota. E o quanto precisava evoluir. Me abriram os olhos, a mente, a percepção.
Uma dessas pessoas te odiava. Me contou a história da treta da “trepadeira”.
Cara que absurdo. Acho que não estou tão errado assim.
Ai veio outra pessoa. Uma pessoa negra como você. Com uma história parecida com a sua.
E que mostrou que parte dessa revolta de algumas pessoas contra você tinham a ver com a cor da tua pele.
Que outros artistas já tinham passado por algo semelhante. Mas a mídia passou um pano porque eram brancos.
Machismo seletivo motivado pelo racismo?
Que fita.
Ai voltei a me questionar.
Acho que estou errado.
Ai ouvi baiana.
Chorei.
Que letra, que harmonia.
Dei o braço a torcer.
Ouvi algumas palestras, ajudei uma amiga a te entrevistar, te vi na tv.
Bateu um remorso.
Devia ter valorizado mais o teu trampo.
Ai veio 2019.
O país em pedaços, a economia em colapso, discurso de ódio em horário nobre.
Isso sem falar em terra plana, nazismo de esquerda e o Grêmio tomando 5 a 0.
Ai veio 2020, 2021, Pandemia…
E o AmarElo
Bateu em cheio nas minhas ideias.
E no meu coração.
Cada rima, uma lágrima.
Mas é lágrima de emoção.
De identificação. Embora minha vida tenha sido um pouco menos sofrida que a tua, muitos corres se assemelham.
Inclusive a parada de comprar fralda na promoção.
Acho que a melhor definição pra esse trabalho eu ouvi da tua boca: “Um disco para quem é pai”.
As letras mudaram um pouco o foco.
Mas não perdem a urgência e nem a capacidade de emocionar.
Obrigado por esse disco.
E me perdoe por ter sido resistente ao teu trampo.
A ficha demorou pra cair.
Mas caiu.
Com a força de quem despenca tentando alcançar o céu..
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