Cavando Ideias • Cris Rocha e a Cerâmica Tauá
Texto de Silvia Ferreira Lima para a Expedição CoMMúsica. Silvia escreve sua coluna todas as sextas-feiras.
Cavando Ideias • Cris Rocha e a Cerâmica Tauá
No último dia 12 de junho, dia dos namorados, fiz um passeio incrível, que foi visitar o ateliê da artista visual, especializada em cerâmica, Cristina Rocha. Acho importante informar que a visita ao seu Ateliê no Jardim Botânico de Sousas, Campinas- SP, num condomínio fechado, é um passeio muito agradável, assim como todas as histórias contadas por suas lindas peças.
Formada em Odontologia, Cristina aprendeu a fazer cerâmica com o intuito de auxiliar seus pacientes na produção de próteses dentárias, bem como outros equipamentos necessários para a recuperação da arcada dentária. Assim, começou a fazer cerâmica, interessada em adquirir uma atividade para relaxamento nos seus momentos de lazer.
Cris relata que, como dentista, vestida de branco com sapatos de salto, sempre foi muito respeitada, porém nunca recebeu o mesmo respeito suja de barro como ceramista. Só foi observar esta diferença cultural, quando inscrita num concurso de cerâmica ganhou uma viagem ao Japão e ficou algum tempo hospedada em casa de família por lá. Nesta ocasião, ouviu que um ceramista tem bom coração. E toda vez em que entrava em algum comércio ou passava na rua suja de barro, os japoneses lhe reverenciavam. Desde então, tomou consciência da diferença entre o Brasil e o Japão com relação à cerâmica.
Também aprendeu que uma peça imperfeita é mais importante do que uma peça perfeita. Afinal, como a vida, tudo apresenta irregularidades e imperfeições. Esta lição Cristina Rocha também aprendeu. Além de ter sido aluna de Akiko Fujita, professora japonesa de cerâmica no Instituto de Artes da Unicamp, cuja obra, Monumento à Campinas (1985), possui Cristina Rocha como cuidadora das peças, que acabaram sendo deterioradas pelo tempo, embora algumas destas estejam colocadas bem na entrada do seu ateliê. Daí já se percebe que o trabalho em cerâmica de Cristina Rocha vem desde a década de 80.
Realmente, Cris já obteve alguns outros prêmios, como, por exemplo, o do Instituto do Café (SP), pela confecção de xícaras de café que mantêm a temperatura quente ao mesmo tempo em que não queima a mão da pessoa que a utiliza. Cristina também produz copos de cerâmica para aqueles bebedores de cerveja que apreciam seu sabor e sua temperatura gelada por mais tempo. Confesso que foi por isso que levei meu marido ao seu ateliê: para comprar copos de cerâmica, que são mantidos no refrigerador e realmente mantêm o aroma da boa cerveja, bem como sua temperatura gelada por mais tempo. É um requinte necessário para o bom apreciador.
O Ateliê Tauá (nome que remete ao barro bem fino, utilizado pelos indígenas para aplicar em suas peças e poli-las) existe desde 1985. Seus primeiros trabalhos eram confeccionados em raku (técnica centenária japonesa utilizada na cerimônia do chá) e queimados num forno a gás ou lenha. Cris Rocha construiu um forno anagama, iniciando seus trabalhos em queima a lenha e a pesquisa dos esmaltes de cinzas.
O que começou como uma atividade de relaxamento e lazer, acabou virando seu meio de vida. Assim, no ateliê Tauá são vendidas peças “utilitárias”, cujo significado tem pesado de forma negativa no que diz respeito à arte cerâmica. Mesmo assim, de acordo com Cristina, graças à venda destas peças ela pode investir em suas pesquisas sobre esmalte de cinzas, para o que conta com a parceria do ceramista norte-americano Arlen Jansen, que anualmente visita seu ateliê e com quem trabalha e discute a respeito de suas produções.
Na realidade, um passeio como este, ouvindo suas histórias e as histórias de produção de cada peça, leva-nos a sentir desejo de também manipular o barro no torno, ou ainda, pôr as mãos na terra e brincar de Deus, transformando o barro num objeto bonito, delicado, com valor intrínseco. O que só é descoberto pelo leigo quando observa atentamente o trabalho do ceramista, bem como suas propostas na produção de suas técnicas, que embelezam e aperfeiçoam coisas simples do dia-a-dia.
Valorizar as pequenas coisas é um dos primeiros aprendizados que temos quando visitamos um ateliê de cerâmica, como o Tauá de Cris Rocha, ouvindo suas histórias e observando a delicadeza dos detalhes. Parece, afinal, que a cerâmica também possui uma qualidade meditativa e curativa como toda técnica de arteterapia que podemos encontrar. Relaciono com minha primeira matéria nesta coluna, sobre o livro de Stefano Mancuso, bem como o artigo sobre o Subsolo: Laboratório de Arte e a publicação: Transgressões Cerâmicas, que contém um artigo de Cristina Rocha, justamente o que narra sua experiência de aprendizado no Japão. Explicitando sua proposta de fazer um catálogo sobre a produção dos artistas que trabalham com cerâmica no Brasil.
Tudo isso é digno de conhecimento. Bem, como vale agendar uma visita à Cerâmica Tauá, cujas referências são colocadas abaixo, para verificação dos interessados. Assim, como colocamos o link da Live que tivemos com Cristina Rocha, justamente divulgando seu trabalho maravilhoso, ou ainda, divulgando suas peças cuja importância também é colocada. Pelo menos, a importância de algumas de suas peças. Mas a visita ao ateliê é encantadora e pode constar como roteiro para as férias de julho.
Referências:
Site: www.tauaceramica.com
Instagram: @tauaceramica
Endereço Rua Dr. Osvaldo de Oliveira Lima, 191 Campinas São Paulo
Agendamento para visita : (19)98359-2002
Conversa de artista _ Live com Cris Rocha https://www.instagram.com/tv/CQR3nSqHosE/?utm_medium=copy_link