“Temas atuais, como genocídio, desvalorização da ciência e corrupção, marcaram há 2.500 anos a trajetória do filósofo grego, cuja vida está contada em ópera escrita (música e textos) por Andersen Viana.
Questões como corrupção, suborno, genocídio e desvalorização do conhecimento e valorização da força e das armas, em evidência hoje na sociedade contemporânea, estavam também presentes há 2.500 anos na Grécia do filósofo, matemático e músico Pitágoras, cuja vida colocada aos palcos no espetáculo “Pitágoras de Samos”.
De autoria de Andersen Viana em parceria com a Cia Mineira de Ópera, o espetáculo é o primeiro teatro musical do mundo escrito, produzido tendo como tema o importante personagem do pensamento ocidental.
O projeto, realizado com patrocínio da Lei da Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, inclui ainda a gravação em DVD a ser usado como material paradidático nas escolas públicas e privadas de todo o país e em outros países de língua lusófona.
O compositor se debruçou em pesquisas sobre Pitágoras durante dois anos, sendo que as questões presentes na trajetória do filósofo fazem parte hoje também da nossa sociedade.
Nascido em 570 anos a.C, na Ilha de Samos, Pitágoras fundou a Escola Pitagórica, da filosofia pré-socrática sofreu inveja e perseguição da elite que não conseguia integrar o grupo. A Academia, que unia matemática, filosofia, astronomia, religião e música, tinha como discípulos naquela época não só homens, mas também mulheres.
Cylon, que não foi aceito no círculo intelectual por incapacidade intelectual e falta de caráter, se vinga de Pitágoras e contrata soldados para dissipar os pensadores da academia, lembrando que os tiranos da Grécia não valorizavam a arte e o conhecimento, por temer os questionamentos dos pensadores.
Segundo o compositor, Pitágoras defendia o conhecimento como um tesouro, que seria perpetuado e ninguém conseguiria roubá-lo. Cylon, então, por não ser aceito na academia vinga-se dos pitagóricos, clama por “Crato”, o deus da força, para poder apagar a história de Pitágoras e de seus seguidores, e assim, escrever outra. Para Cylon, os pensadores só atrapalham e, sem eles, a vida seria mais fácil.
Há várias versões para a causa da morte do filósofo, uma delas seria suicídio em razão da perseguição política e inveja que sofria da elite na época. Há muitas lendas e mitos em relação à história de Pitágoras, uma vez que ela só foi resgatada 200 anos após sua morte.
O drama musical, com duração de cerca de 90 minutos, resgata ainda um amor – difícil de se realizar – entre Myia, filha de Pitágoras, e Apolônio, discípulo do mestre Jônio. A intenção é mostrar todas as faces de Pitágoras.
A figura do filósofo é muito lembrada pelo teorema de Pitágoras, estudado nas escolas, mas poucas pessoas conhecem a história dele em profundidade. Obra rara As duas únicas obras produzidas no Estado de Minas Gerais equivalentes à Òpera sobre Pitágoras são “Tiradentes”, de autoria de Manuel Joaquim de Macedo (1847-1925), e Os Sertões, de Ferdinand Juteaux – compositor francês – , a primeira apresentada em 1886 sob forma de oratório em Belo Horizonte e a segunda, dirigida por Sebastião Vianna na década de 1950, pai do compositor.” (Texto transcrito do YouTube, divulgação do vídeo da ópera Pitágoras de Samos).
Magna Grécia 495 a.C., um ano após a saída da ilha de Samos
Myia diz a Pitágoras que o melhor a fazer era ter vindo para Crotona do que ficar em Samos sob o domínio do tirano Polícrates. Lá eles corriam grande risco. Pitágoras explica o quão perigoso é para os tiranos ter por perto os que amam as artes e o conhecimento, pois são os primeiros a questionar atos irracionais. Assevera a Myia que o mais importante é guardar o tesouro do conhecimento na memória, pois, tiranos e ladrões jamais conseguirão roubá-lo.
É quando Pitágoras canta: “Tudo é Número”. Apolônio deseja entrar para os “Pitagóricos”, quando o mestre assevera que ele teria de enfrentar uma prova difícil…
Pitágoras canta “A vida é como um espetáculo”.
Myia diz a Apolônio que ela estava muito contente por ele e que seu pai era um mestre muito exigente. Apolônio responde a Myia que será uma honra conviver com o mestre. …
É quando Myia recorda a “Canção de Ninar” que Pitágoras sempre lhe cantava. Apolônio que ainda não havia se declarado a Myia lhe entrega uma rosa branca, símbolo da regeneração da alma e de bom presságio da imortalidade.
Pitágoras disserta sobre o instrumento que havia criado o “Monocórdio” que era um instrumento de apenas uma corda esticada entre duas extremidades. Diz que a música se relaciona com a matemática, pois basta dividirmos a corda exatamente na metade o som soará o mesmo da corda solta, mas mais agudo – uma oitava acima…
Cylon – aspirante a discípulo – deseja entrar para os “Pitagóricos”, quando o mestre assegura que ele também teria de enfrentar uma prova difícil e se realmente era aquilo o que queria…
Apolônio pondera a Pitágoras que talvez fosse melhor deixar Cylon como “akousmatikoi”, pois ele era um nobre poderoso na cidade, tendo ficado muito contrariado com o resultado…
Com ódio, Cylon inicia um monólogo dizendo que Pitágoras está velho demais para entendê-lo e que, de agora em diante, todos aqueles seres esquálidos seriam seus inimigos…
Myia e Apolônio estão a praticar a harpa e o canto quando, de repente, surge Cylon que começa a dissertar sobre o modo de vida deles: a estranheza de todas as coisas compartilhadas, a abstinência de carne, o bizarro culto de não possuir propriedades…
Myia explica ao pai o que havia acontecido, o que Cylon havia feito …
É quando surge o dueto de Myia e Pitágoras com “Melancolia”. Ela reluta, mas finalmente concorda e sai carregando os manuscritos. Myia diz a Pitágoras que deveria se retirar para o templo de Apolo, onde estaria seguro.
No templo de Apolo Pitágoras toca sua lira, entremeado por silêncios meditativos. Repentinamente surge Cylon e Pitágoras percebe sua presença.
Triste e só, Pitágoras, em seu monólogo, diz que tudo está terminado e que ficaria ali em meditação sem comer e nem beber até que os deuses o levassem…
Cylon está só. Após a morte de Pitágoras, ele começa a ter visões do mestre, do deus Apolo, iniciando uma sequência de alucinações…
O Soldado responde dizendo que iria salvá-lo, mas que existia apenas uma maneira para curá-lo de toda aquela loucura…
Glossário
Magna Grécia = Denominação que recebia o sul da península Itálica, região colonizada na antiguidade pelos gregos e que incluía também a Sicília.
Pitagóricos = Membros da sociedade criada por Pitágoras. Desenvolveram uma parte significativa de conhecimento matemático tendo sido um misto de religião, misticismo, arte e ciência. Pitágoras ficou conhecido também como o “filósofo feminista”, visto que na escola havia muitas mulheres discípulas e mestras(Século V a.C.)
Metempsicose = Crença de que a alma é imortal e que depois da morte ela é transferida para um novo corpo.
Mathematikoi = Tradicionalmente identificados como a facção mais intelectual, modernista, racional e científica dos Pitagóricos.
Akousmatikoi = Tradicionalmente identificados como crédulos remotos no misticismo, numerologia e ensinamentos religiosos dos Pitagóricos.
Frase atribuída a Pitágoras = “O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos”.
Frase atribuída a Pitágoras = “A vida é como um espetáculo, entramos nele, vemos o que ele nos mostra e dele saímos no final”.
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