Os exercícios de estilo de Marcelino Freire: Ossos do Ofídio
Os exercícios de estilo de Marcelino Freire: Ossos do Ofídio – Marcelino Freire pode ser encontrado nas redes: Facebook, Instagram. Na realidade, eu o conheci pessoalmente num curso de Escrita Criativa que ocorreu em O BARCO, um centro cultural em Pinheiros, Vila Madalena, em que podíamos comprar livros, ir a noites de autógrafos ou fazer cursos de Escrita Criativa. Na mesma época, conheci outros autores brasileiros; mas amizade mesmo fiz com o Marcelino.
Isso ocorreu em 2010, nove anos depois eu me inscrevo pela Rabeca Cultural, outro centro de exposição, exibição de arte e shows em Campinas. E neste momento de pandemia, fui aluna on-line de Marcelino.
Atualmente se utiliza o termo stalkear, quando seguimos alguém. Porém, neste mundo de rede, em que muito trabalho se consegue através de contatos pela internet, esse stalkear virou na realidade um meio de se manter contato e oferecer serviços culturais.
Marcelino é assim, um pernambucano incrível, que já foi ajudado e já ajudou muita gente a publicar seus livros e suas ideias. Ele é um excelente ser humano, como ficou evidenciado em cada aula que tive pessoalmente com ele no Barco assim como na nossa despedida, que fui num restaurante em São Paulo.
Comprei seu mais recente lançamento: Ossos do Ofídio, cujo título possui sonoridade devido às aliterações e assonâncias. E não apenas o título. Seu livro está cheio de ótimas frases e muitas figuras de linguagem, não apenas as figuras de som como também as antíteses, os paradoxos, as metáforas e as catacreses, entre outras.
Há frases incríveis, como: Confortável tem de ser a cama não o livro. Ou ainda: Dos bons livros se sai com as mãos sujas. Memoráveis. Todas possuem muito de sabedoria popular, a sabedoria do dia-a-dia. Genial.
Tem um pouco de Manoel de Barros e muito de Raymond Queneau, autor francês que em sua obra Exercícios de Estilo, força a si mesmo assim como ao seu leitor/escritor mais dedicado a imitá-lo, narrando a mesma história de incontáveis formas diferentes.
Marcelino faz um pouco disso. Na realidade, ele escolhe de forma mais marcante as frases de efeito, conforme os exemplos que já citei acima.
Há momemtos em que ele também começa a narrar algo, que em cada conjunto de parágrafos são ações diferentes. Todos se interrelacionam com mais algumas sessões de frases soltas.
Há momentos em que ele questiona o ensino de Redação nas escolas e como a construção de um único padrão ao invés de criar bons leitores e escritores, apenas forma repetidores de um status quo. Concordo com ele, mas como professora, sou obrigada a continuar seguindo os mesmos modelos, embora não seja de maneira tão absoluta e tão tacanha.
Logo no início do livro ele parece conversar com os alunos de suas oficinas de escrita criativa, oferecendo sugestões, dando conselhos e fazendo críticas. E veja que ele já foi responsável pela formação de alguns bons escritores.
Marcelino faz em Ossos do Ofídio, um grande exercício de estilo, sem se dedicar exclusivamente a um único. Talvez o que chegue mais perto sejam as frases marcantes, como algumas que já citei.
O livro tem trechos bem fortes e críticos, daqueles que vale a pena sublinhar, marcar, anotar no caderno. Ideias importantíssimas, aparentemente desconectadas, ou melhor conectadas pela sabedoria de Marcelino, sua franqueza, sua experiência e sua proposta para que o leitor se divirta e ao mesmo tempo se incomode.
Cada frase isolada pode provocar muitas outras ideias e textos. Assim, como o autor francês Raymond Queneau, com sua brincadeira de escrever a mesma história com inumeráveis estilos diferentes. Quem não leu ainda, vale a pena como diversão e exercício para o leitor/escritor.
Já o livro de Marcelino Freire, eu aconselho a que comprem e leiam. Cada uma das páginas alternadamente ou leiam de uma só sentada. O único problema é que este livro nos provoca a pontos que querer que o coloquemos na cabeceira e voltemos a ler a cada dia um pouco.
Boa Leitura!