Cavando Ideias – Nós somos modelos
Cavando Ideias – Nós somos modelos é artigo de Silvia Ferreira Lima
Temos que admitir que uma criança, desde bem pequena, observa o comportamento dos adultos e os imita. Seja por que acha bonito, seja porque percebe que as atitudes provocam respostas, principalmente as que ela deseja.
Imitação
O primeiro exemplo para mim foi o do meu pai. Ele estava sempre lendo e pedia silêncio para ler o que queria. Por isso mesmo, detestava o barulho da televisão ligada. Além disso, dentro de casa existiam coleções de livros bem interessantes. Comecei com Histórias das Mil e Uma Noites, em seguida, fui para a coleção de mitologia grega. Lembro que quando estudei Literatura Infanto-Juvenil na Faculdade, meus colegas se espantavam com o que eu já tinha lido ou que eu já conhecia. Quando adolescente e até antes de sair da casa dos meus pais, eu tinha uma estante metálica no quarto que era minha, onde eu guardava os meus livros. E detestava que alguém mexesse, principalmente, se quisessem arrumar do jeito deles.
Política estudantil
Também sempre fui interessada em política estudantil. E se meu pai, nos dizeres dele, nunca pode participar disso, porque já trabalhava e estudava, preocupando-se com uma vida familiar desejada por ele e pela minha mãe; isso não quer dizer que ele não achasse importante. Deste modo, sem saber, eu me meti em política estudantil. Fiz campanha para Centro Acadêmico, do qual eu participei em 1985, por aí, e também fiz campanha para o Diretório Central Estudantil. Gente, acho que os títulos eram esses, sinceramente, já faz muito tempo. Mas comento isso, porque atualmente acompanho as movimentações da minha filha para melhorar as condições estruturais, trabalhistas, organizacionais do Instituto de Artes na Unicamp.
Claro que tenho muito orgulho dela, mesmo sabendo que apesar das reivindicações estudantis serem importantes, as pessoas que realmente se mobilizam para isso, são uma minoria e muitas vezes acabam se sentindo sozinhas. Mesmo considerando que as manifestações estudantis são necessárias e importantes. Ajudam na formação de futuros políticos e pessoas mais justas e realmente preocupadas com a população. Admiro e gosto das figuras da Manuela D´Avila, ou Manu, que foi candidata à vice-presidência do Brasil juntamente com o Haddad em 2018. E também sigo o Guilherme Boulos, pessoa que eu admiro e tenho o maior orgulho quando ouço sua história de vida e de luta pelo bem dos trabalhadores, principalmente, os trabalhadores rurais, sem terra, cuja plantação é mais saudável do que as dos grandes plantadores.
Sim, compro produtos do MST, que realmente dão exemplo de qualidade e de respeito à terra e à saúde da população, não utilizando os agrotóxicos que acabam nos provocando câncer, entre outras doenças. Tenho realmente muito orgulho do Boulos e da Manu. E voto neles quando eles aparecerem porque são justos, educados e realmente muito coerentes e idealistas. As histórias de ambos começou no Ensino Médio ou na Universidade, momento da vida, em que os jovens realmente percebem que o mundo precisa melhorar e encaram com coragem a justiça pela qual lutam. Realmente, suas famílias os apoiam e auxiliam nesta luta. A esposa e as filhas do Boulos, por exemplo, vivem com ele próximo a mesma comunidade pela qual ele trabalha. Já o marido e o enteado da Malu também demonstram apoiar todas as suas lutas. E isto é o mais importante.
Mas, vários jovens, como a minha filha, precisam parar e refletir o que mais querem fazer na vida, se política ou se o curso em que estudam. É realmente difícil fazer as duas coisas e se dar tão bem quanto. Exige tanto tempo e dedicação, que fica quase impossível levar tudo.
Bem, no meu caso, eu já tinha problemas bem complicados com meus pais, para me dedicar apenas à política. Mas alguns antigos colegas, seja de chapas ou de partidos políticos dedicaram-se apenas a isso. Outro dia, procurei no Google e achei um ex-namorado. Vi e reconheci pela fotografias, mas nem pensei em entrar em contato, porque como muitas pessoas que a gente encontra, faz parte apenas de um curto momento de nossas vidas. Então, eu o deixei no passado.
Observando minha filha numa manifestação política, sendo que eu nunca antes tinha contado para ela um pouco da minha experiência com CA, DCE e até UNE. Sim, estive no Congresso da UNE em 1984 ou 1985, não tenho certeza. Participei da votação que escolheu eleições diretas para a nova chapa da UNE. Fiz campanha política para a chapa, conheci muita gente do Brasil todo neste congresso. Foi uma experiência inesquecível. Cheguei a ouvir de um colega de curso que ouviu um dos meus discursos e disse que votaria em mim para tudo, tal a clareza e objetividade de princípios que eu demonstrei.
Infelizmente, vivemos tempos opacos para política. Basta observar o comportamento e as palavras do nosso presidente, que infelizmente se espalha como coronavírus, na política do ódio, da violência e da repressão. Tenho vários amigos que depois da eleição de 2018 comentaram que desde então ficamos doentes de Brasil. Uma grande verdade! Então, nos encontrávamos no bar e bebíamos as mágoas. O que a pandemia acabou restringindo e em alguns casos até destruiu.
A sociedade do espetáculo
Na verdade, durante este tempo, não apenas as fake news se disseminaram, mas passamos a conhecer pessoas muito boas, amigas, cheias de ideais e atenção, que conquistaram nossa amizade eterna. não importa onde estejamos. Isso a internet também facilitou.
Hoje, vejo minha filha cansada, frustrada, indignada por suas reinvindicações serem justas e não serem ouvidas. Feliz por ter contato com vários colegas e amigos para organizarem uma manifestação dos estudantes de artes bonita, um espetáculo, na realidade!. Com danças, gestos, passos, cartazes, fotografias, gravações. Tudo cheio de beleza e de cor. Uma manifestação linda, que acabou ignorada pelos outros membros da universidade. O que me fez lembrar do livro de Guy Debord: A sociedade do espetáculo, em que o filósofo, agitador social e diretor de cinema, herdeiro do dadaísmo e do surrealismo, foi precursor de toda análise crítica do consumismo. Compramos o espetáculo do produto que nos é vendido.
Votamos no espetáculo produzido pelo candidato, via internet, ou fake news. Só acho lamentável que depois desta mobilização, a maior atualmente ocorrida na universidade com cerca de 180 alunos participantes, maior do que a do DCE da própria universidade, ocorreu organizada pelos alunos do Instituto de Artes, que afinal, questionaram a importância das Artes e consequentemente de seus cursos para a sociedade. Já diz a letra dos Titãs: “a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte”. A arte é essencial. A arte é importante para manter a nossa sanidade e desenvolver a nossa sensibilidade e nossa empatia pelos problemas enfrentados por outros seres humanos.
A importância da arte
A arte precisa ser mais valorizada em todas as instâncias culturais. Principalmente e inicialmente nas escolas. E até que ponto isso tem realmente ocorrido? Como podemos melhorar? Com certeza, depois de tanto isolamento social, morte, pandemia, a arte parece o melhor remédio para desanuviar os males da sociedade. Levar as atividades artísticas mais seriamente, auxilia o bem estar de todos.
(continua)