Cavando Ideias – Coluna da Silvia F Lima
Cavando Ideias – Coluna da Silvia F Lima na Expedição CoMMúsica.
Cavando Ideias _Coluna da Silvia F Lima
Nossa CEO _ vulgarmente conhecida por Tuca, pelos músicos, pelas músicas, colunistas, escritores e escritoras da Expedição CoMMúsica _ ajustando nosso site, pediu-nos que escrevêssemos sobre nosso trabalho na Expedição. Então, resolvi começar do início.
Cavando
Desde janeiro de 2021, comecei a escrever para o site, para cuja coluna eu deveria escolher um nome. E não é a primeira vez que tenho dificuldades em criar um título para um trabalho, porém conversando com minha filha, que atualmente tem 21 anos; ela me sugeriu o título acima. Para mim, fez todo o sentido, porque comecei a exercer uma atividade artística, cavando a madeira, ou entalhando, mdfs, em princípio. Elaborei todo um trabalho de entalhe de órgãos em matrizes de mdf com goivas. Dois anos depois, conheci o Luís Carlos Officina, que me introduziu aos buris. Instrumentos feitos de aço, utilizados por joalheiros para entalhar pedras e metais nobres.
E para quem não conhece: a madeira de topo é o corte do tronco de árvore no sentido horizontal; o que a torna muito mais difícil de entalhar ou marcar. Por isso, Officina me ensinou tudo sobre os buris, encabar (colocar um cabo de madeira na lâmina), afiar e mais do que tudo: utilizar os buris de forma medieval, no sentido rotativo do topo, com o buril na frente da outra mão, com os dedos abertos, dando espaço para o instrumento e ao mesmo tempo, freando a força da mão com o buril, a fim de não deixá-lo escapar e ao mesmo tempo, evitar qualquer tipo de corte.
Entalhei cinco pedaços de topo, frente e verso, mas desta vez o motivo foi o desenho das células de cada órgão do corpo, já escolhido. Algumas células, eu decidi não entalhar porque o desenho não me pareceu tão bonito ou inspirador. Deste modo, entalhei cinco pedaços, apenas dois deles na frente e no verso. Sinceramente, foi meu trabalho mais surpreendente. Tanto que todo mundo que vê os pedaços ao vivo ou por fotografia, já se interessa em comprar. Vendi apenas dois destes pedaços; por um preço alto, como toda matriz de gravadores são avaliadas, isso quando são vendidas. Mas não é todo mundo que tem a honra de ficar com as matrizes de um gravador. Bem, apesar de eu amar o meu trabalho, não sou uma gravadora ou artista que despontou. Mesmo assim, os admiradores e compradores das minhas matrizes são pessoas que sabem avaliar muito bem o meu trabalho. Então, achei que mereciam ter a oportunidade de levá-las.
Atualidades
Uma vez explicado de onde veio a expressão CAVANDO, comento que para escrever uma coluna semanal temos sempre que ter ideias, e em alguns momentos isso fica realmente difícil. Foi o que vivi em 2021, pois apesar do isolamento social ter começado no final do ano anterior, foi justamente no ano passado que meu pai morreu de covid-19. Eu e meus irmãos já fizemos homenagens de despedida. Mas, jamais vou esquecer, ou conseguir perdoar os responsáveis pelo governo atual, que demorou mais do que devia para começar a vacinação da população no Brasil. Fora as campanhas a favor de cloroquina que circularam na mídia. Tchekov escreveu numa de duas peças teatrais que “o médico é pior do que o advogado, porque o advogado rouba; porém o médico rouba e mata”. Apesar de que não foram exatamente os médicos os responsáveis pela grande mortandade da população, mas foi o ministério da saúde, o presidente e todos os que se aproveitaram da situação para ganhar milhões com isso.
Por outro lado, tiro o chapéu para os cientistas brasileiros, principalmente, a cientista que descobriu o DNA do vírus, aumentando a rapidez para a criação das vacinas. Além de todos os médicos e enfermeiros do SUS, que lutaram para salvar milhares de brasileiros e brasileiras, sendo que muitos morreram por isso. Louvo todos os cientistas brasileiros que participaram da preparação da Coronavac e da Astrazeneca, vacinas que foram as primeiras a serem distribuídas e que por isso salvaram milhões de vidas. Foram justamente elaboradas com o trabalho dedicado de milhares de cientistas brasileiros. Quero deixar bem clara a minha gratidão a todas estas pessoas. Não há louvor justo o suficiente para lhes agradecer.
Bom, comecei escrevendo sobre o título da minha coluna; daí, já é possível notar que sempre escrevo sobre atualidade, pelo menos é o que tenho feito neste ano. Nunca deixo de colocar meus comentários ou opiniões particulares; afinal, qualquer colunista da expedição possui a liberdade de manifestar suas opiniões, sociais, políticas, econômicas, as que julgarem convenientes. Do mesmo modo, como qualquer leitor possui a liberdade de discordar totalmente, criticar ou responder a qualquer opinião manifestada. Aliás, existe um espaço ao final para isso.
Ideias
Como bem colocado no título, a escrita está no mundo das ideias, é uma manifestação destas ideias. Esta é a mesma posição da arte: sejam visuais, plásticas, sonoras, cênicas ou literárias. Às vezes, pode parecer que ficamos sem ideias para escrever. Mas, digo uma coisa, demorou, mas depois que comecei a disciplina de escrever sempre. As ideias passaram a surgir como uma fonte de água que circula inesgotável. Pode parecer o momento também. Afinal, preciso confessar que fiquei alguns meses sem conseguir escrever nada. Até que recomecei e quando percebi que se eu escrevesse sobre o que eu já vi ou vivi, jamais faltaria assunto. Bom, já passei da metade de um século, então não faltam experiências de vida. Verdade, toda obra de arte é um pouco autobiográfica.
Vida
Quando entalhei minhas matrizes de órgãos: cérebro, coração, rins, pulmão, fígado, pâncreas e útero. Primeiro, pensei nos órgãos vitais, depois vieram os órgãos que podem apresentar algum efeito colateral, ou que eu me preocupo com isso, uma vez que sou diabética insulino-dependente desde que tinha uns vinte anos. Então, a estas alturas, tenho vivido mais tempo diabética do que vivi antes. Além disso, não se julga uma pessoa diabética, mas a diabetes se apresenta em determinado momento de vida. No meu caso, surgiu quanto eu tinha vinte e três anos. Mas tenho dois sobrinhos, que, na realidade, são sobrinhos do meu marido, que num a diabetes apareceu desde a infância e no outro quase na adolescência. De um jeito ou de outro, sempre escrevo sobre experiências de vida. Fernando Pessoa já dizia que “nenhum rio é maior do que o rio que passa pela minha aldeia“. Ou melhor, um poeta, um escritor, um artista, sempre trata de sua vida, e quanto mais fundo ele trata de sua vida, mais atinge a todas as pessoas; porque costumamos nos identificar com o que é individual, muito mais do que o geral.
Outra coisa interessante para comentar é que de um jeito ou de outro eu faço citações. Cito livros que já li, pessoas que já conheci, obras ou exposições que já visitei. E sempre lembro do provérbio: a vida imita a arte ou a arte imita a vida? Esta também é uma referência que eu faço. Adoro ler ficção, mas também adoro filosofia, crítica de arte, crítica social, história, geografia, entre outros assuntos. Sou assinante de alguns clubes de livro como TAG (inéditos e curadoria), UBU e Intrínsecos, além dos livros que compro. Eu gostaria de ler tudo pelo que eu me interesso, sou ansiosa para ler, então, é comum eu comprar mais do que conseguir ler em tempo. Por isso mesmo, não participo de todas as reuniões e discussões de leitura. Quando eu escolho em que vou participar, prefiro as palestras de algum especialista da UBU. Cada louco com a sua mania!
Livros
Na infância, meus pais tinham uma grande biblioteca, os que eu fucei primeiro foram os livros de mitologia. Tenho algumas coleções ou livros de mitologia. Ainda adoro isso. É comum eu fazer alguma referência ou alegoria mitológica. Adoro conhecer as escritoras brasileiras recentes. Vez ou outra leio uma, mas também não consigo me disciplinar a ler determinadas autoras recentes e deixar de ler algum clássico que ainda não li. Acho importantíssimo os clubes de leituras e as trocas entre as autoras frequentemente, mas não consigo me disciplinar para ler determinada obra atual. Mesmo assim, já li algumas, que achei excelentes! Já citei algumas destas autoras em minhas colunas: Michele Fernandes (minha colega de expedição, que escreveu o maravilhoso livro de contos: Conta Comigo), Daniela Bonafé (que eu conheci fazendo live no Instagram, com os livros: Útero_ poemas que escreveu sobre sua gravidez_ e Contos para o fim do mundo; que como já informa o título, são contos, ótimos contos); também escrevi sobre o maravilhoso livro Filha 7 , autobiografia de Marli Soares, tia da editora e ilustradora Keila Knobel, artista incrível cujo modelo eu sigo. Uma vez que a Keila produz lindos livros de artista, faz cursos de ilustração e encadernação, preparação de tintas, monotipia e impressões. Enfim, uma mulher com a qual eu me identifico, já que meu sonho também é fazer um livro de artista com meu texto, ilustrá-lo e editá-lo, como ela já conseguiu fazer vários.
Quem sabe eu não consigo realizar meu sonho neste ano? Só para comentar o que tenho feito, logo no início da pandemia, entalhei matrizes de cobre, mas como não possuo uma prensa para calcogravura, que costuma fazer uma pressão muito maior do que a prensa de xilogravura que eu tenho em casa; só comecei a imprimir nos últimos meses, frequentando a oficina de gravuras do Danilo Perillo, que ocorrem no atelier de gravura da Unicamp, que possui prensa para calcogravura. Já tenho ideia para executar o livro de artista e já escrevi os poemas. Dois poemas grandes, no modelo de Cruz e Souza, autor brasileiro do século XIX, negro, que eu admiro, cujo estilo eu gosto de imitar. Eis outro assunto sobre o qual escrevo bastante, meu trabalho artístico. De um modo ou de outro, estou sempre mostrando, seja em imagens (colocadas nos meus artigos), seja com comentários ou ideias para serem realizadas ou que estou realizando. Retomando brevemente, aprendi a entalhar no cobre utilizando buris com o Officina, grande amigo e mestre que faleceu neste ano. Ainda me sinto devendo para ele escrever um livro sobre seu trabalho.
Já entrevistei outros escritores, não somente escritoras, os quais foram convidados para participar de uma Live no meu Instagram e acabaram sendo transcritas para um artigo publicado neste espaço. Cito ainda os escritores Darlan Zurk, Jorge Silva, Lúcia Moyses. Além das artistas Cris Rocha, Denise Braune e Salete Lottermann. Adicionando Andrés Inocente Martín Hernández, curador de vários artistas no espaço para criação artística em Campinas, chamado Subsolo; o qual também fez parte de um artigo.
Estas Lives no Instagram foram momentos incríveis de troca de experiências e conhecimento mútuo com pessoas admiráveis, com as quais a relação virtual acabou se tornando presencial. Mas falar de arte me dá muito prazer. Por isso, continuo tratando do assunto. Ainda que sem Lives, que possuem a desvantagem de cansar com a exposição frente à câmera e com a disciplina para organizar e participar com frequência. Cheguei à conclusão de que no final, não curto muito. Sou muito rebelde para me impor disciplina para fazer algo que no final vira apenas uma obrigação.
Escolhas
A escolha é sempre pessoal, afetiva e momentânea, por isso tenho muita dificuldade em parar e ler alguma obra que um grupo de leitura decida ler em conjunto. Por isso mesmo, resolvi deixar o Coletivo Escreviventes, cuja amiga Michele Fernandes continua fazendo parte e eu acho maravilhoso, sob vários aspectos. Mas não consigo me mobilizar para ler o que outras pessoas estão lendo. É muito pessoal e emocional, não há outra explicação de minha parte. Eu sou pessoal e emotiva demais. Talvez rebelde demais. Ou talvez prefira escolher ler ou conhecer o que me dá vontade de fazer ao acaso. Eis minhas desculpas para os grupos de leitura que realizam um trabalho maravilhoso! Mais ainda, considerando os grupos de mulheres escritoras. Sabem que nas artes visuais a presença feminina também é bem difícil?!
Já existem editais que pontuam 0,5 a mais no caso do proponente ser mulher, transsexuais, gays, deficientes físicos e intelectuais etc. Acho uma forma interessante de dar espaço às minorias. Uma vez que os homens heterossexuais sempre tiveram primazia em tudo. Para escrever, para publicar, para despontar na sociedade. Outro dia, ouvi num show sobre música popular brasileira, a importância de Nair de Teffé, primeira cartunista brasileira, esposa do Marechal Hermes da Fonseca, portanto primeira-dama no seu governo. Nair teve uma educação privilegiada na França, e tanto quanto possível tentou abrir a visão de mundo restrita que a sociedade brasileira, mesmo as elites econômicas, possuíam em finais do séc. XIX, início do séc. XX. Seu ponto de vista foi marcante até mesmo para a semana de Arte Moderna. Eis um assunto interessante para eu escrever em futuras colunas: a presença das mulheres na Arte Brasileira.
Mulher
Com certeza, estou no lugar de fala da mulher. Não sei qual a posição de fala da mulher negra, embora entenda bem a discriminação e o racismo. Entender não quer dizer ser coadjuvante. De jeito nenhum. inclusive porque provavelmente tenho genes de africanos assim como quase 80% dos brasileiros. Uma vez que durante a colonização a vinda dos africanos chegou a ser mais de 80% da população branca. Daí, só houve a miscigenação, ou o estupro das mulheres negras, que infelizmente ocupam a parte mais baixa da sociedade. Então, tudo o que eu puder escrever a favor dos excluídos, por qualquer motivo, eu farei. Antes de tudo, acho que todos somos seres humanos e com os mesmos direitos. Portanto, todos têm direito a moradia, alimentação, vestimenta, educação e trabalho. E toda mulher tem direito a respeito, têm direito à escolha do parceiro, têm direito à emprego, têm direito ao estudo. Meu útero nas minhas gravuras foi entalhado para destacar isso: meu lugar como mulher, que sempre existe.
Então, eu citar a caricaturista Nair de Teffé, foi também após ter ouvido falar dela pela primeira vez, num show de música popular brasileira. Depois eu descobri que Nair foi pioneira na caricatura mundial. Foi a primeira mulher a publicar caricaturas. E teve que fazer com nome de homem, assinando Rian. Educada na França, trouxe muitas novidades para o Brasil. Procurava sempre combater a ignorância com a Arte.
Há registros de que foi a primeira caricaturista no mundo. Seu pai, o Barão de Teffé foi um herói na Guerra do Paraguai. Por isso, Nair teve uma posição privilegiada para criticar a sociedade da época. Realmente conheceu o que existia de mais avançado no campo da arte. A vida de Nair de Teffé foi estudada pela socióloga e pesquisadora da Unb (Universidade de Brasília) Camila Hildebrand Galetti, para a qual Nair conseguiu subverter a posição da mulher pela arte. Como o escândalo que provocou ao trazer para o Palácio do Catete a música popular brasileira, vista com péssimos olhos naquela época. Com certeza, precisamos começar a recontar a história pelo ponto de vista das mulheres e vamos descobrir muitas iniciativas e descobertas brilhantes, ignoradas pela história, uma vez que foram feitas por mulheres e não pelos homens.
Educação
Durante o tempo em que eu dava aulas na faculdade, os alunos me perguntavam se eu só dava aulas ou se era uma profissional do mercado. Eu apenas ria, porque minha formação inicial foi Letras Português e Inglês. Num artigo anterior já narrei um pouco como minha vida foi bem atribulada no quesito educação. Uma vez que apesar de eu ler tudo, observar tudo e perguntar sobre tudo. E sem falsa modéstia, fui uma excelente aluna, em todos os momentos da minha vida. Durante vinte e seis anos de vida, fui dependente do meu pai. Bem, “sua casa, suas regras”. Ainda assim, ele me via como uma filha rebelde. Daí, acho que sempre me identifiquei em primeiro lugar com o que eu fazia, com o meu trabalho; o que me deu liberdade de escolha, em vários sentidos. E a escolha foi trabalhar com Educação.
Minha filha já comentou isso. Toda vez que ela quis conversar comigo eu estava preparando aulas ou corrigindo trabalhos dos alunos. No entanto, sempre dei atenção para ela. Sempre parei o que estava fazendo para ouvi-la, para conversar. E mesmo quando eu dava 44 aulas por semana. Um absurdo mesmo no Ensino Superior! Eu reservava um tempo para sairmos juntas, irmos ao cinema, comermos pipocas, irmos às lanchonetes que ela gostava. Enfim, sempre demonstrei que ela é minha prioridade. Sempre foi! Claro, que depois de mim, o que engloba o meu trabalho e o tempo necessário para manter meu equilíbrio emocional. Então, no final, acho que não fui uma mãe má. Ainda que tivesse me separado do pai dela; tivesse feito ela mudar de escola e cidade, quando tinha uns onze anos. Eu sempre lhe dei escolhas, mesmo que discutíssemos por causa disso.
Eu também lhe dei limites. Nem tudo ela podia fazer do jeito dela e nem todo momento. Gosto de citar uma situação em que, depois de fazê-la cursar seis meses de cursinho para prestar vestibulinho e entrar numa escola pública técnica, aliás entre as melhores de Campinas, porque ela passou para fazer Alimentação no Cotuca (Colégio Técnico da Universidade de Campinas). Ela pode ter reclamado muito disso; mas lhe deu condições mais tarde de passar no vestibular e entrar para fazer Artes Cênicas na Unicamp. Claro, que o curso de Artes Cênicas foi escolha dela. Mas, não lhe dei alternativa para fazer outro tipo de curso que não fosse o público, por razões óbvias, não tinha dinheiro parra pagar seus estudos. Quando ela entrou no Cotuca, eu comecei a fazer Doutorado em Artes Visuais e, na melhor das hipóteses, comecei a receber uma bolsa de dois mil reais por mês. Valor que jamais daria para pagar sua educação, entre outras coisas.
Raríssimas vezes, pudemos contar com seu pai. Eu até desisti de pensar em denunciá-lo na justiça, porque eu sabia que só iria me dar mais trabalho para resolver. Bem, fui em frente, e sempre lhe passei todos os limites e deixei-a conquistar suas decisões e me convencer de que ela merecia confiança. Foi o que ocorreu com o Curso de Artes Cênicas. Afinal, todos sabemos que o trabalho do artista é insano, principalmente, conseguir se manter fazendo arte. Uma amiga, curadora virtual, que montou um site maravilhoso para mim (www.silviaferreiralima.com) , chegou a me dizer que eu não iria muito em frente enquanto não me dedicasse totalmente ao trabalho artístico. Infelizmente, ainda não consegui mergulhar na arte desta forma. Por isso, continuo trabalhando como professora.
Educação também é uma área difícil, que não dá tanto prazer assim, somente quando vemos alguns alunos em cujas vidas conseguimos contribuir. Isso não acontece com a maioria. Existem aqueles que estudam e que ouvem os professores e educadores, porque afinal, existe em seus corações o interesse, a curiosidade, a dedicação e o amor à leitura e à aprendizagem em geral. Porém, nunca são a maioria. Enquanto os que ficam marginalizados, balançando de um lado para outro, são a maioria dos alunos. Às vezes, conseguimos convencer alguns a se dedicar. Porém, raramente é o ideal, conta apenas como o melhor que podem fazer no momento. Mesmo assim, estes podem descobrir os prazeres do estudo em algum tempo. É o que precisamos acreditar, caso contrário desistimos de nosso trabalho.
Aparecer na sala de aula e conseguir ensinar os grupos de alunos é um desgaste emocional imenso. Imaginem durante a pandemia e o retorno às aulas presenciais depois de dois anos? Isso fica pior ainda! Mesmo assim, desenvolvemos o maior amor e carinho por muitos adolescentes, principalmente, os mais atenciosos, educados, sensíveis. Para estes, sempre procuro dar colo, atenção e apoio. Infelizmente, este apoio não é determinante na vida deles. Porém, é capaz de lhes passar um pouco de fé na humanidade. Ainda que possam enfrentar realidades terríveis, com as quais tomamos conhecimento dentro da escola pública.
Educação tem que ser pública para todos. Isso está na constituição brasileira, nossa lei maior, Carta Magna, e deveria ser seguida ao pé da letra. Não ser ludibriada por aqueles que desejam lucrar cada vez mais, a ponto de poderem viver e fazer com que suas próximas gerações não precisem mais trabalhar o resto das vidas. Acho muito injusto, alguns não trabalharem, enquanto outros imploram por um serviço que possa lhes fornecer dinheiro para comprar comida, ter onde morar, o que vestir, estudar então, nem se fala. Por que acaba sendo a última coisa na lista quando as pessoas passam fome. O terrível é que alguns poucos nem sentem culpa ou vergonha por isso. Fico realmente triste quando vejo dezenas de pessoas deitadas na rua, pelo menos com algum tipo de cobertor e comida distribuída por algumas Ongs ou Centros de Assistência à População Carente. Falo isso, mas estou apenas comentando as pessoas que encontro no meu caminho. Com certeza, existem muitas mais. Sem qualquer tipo de ajuda ou assistência.
Muitas vezes, um destes trabalhadores desesperados batem à minha porta. E faço o possível para ajudá-los em alguma coisa. O mais difícil é que ninguém mais usa dinheiro hoje em dia, só cartão ou PIX. Então, quando batem à minha porta, eu lhes passo algum pão ou litro de leite. Infelizmente também não tenho tanto mais, porque ninguém cozinha tanto em casa a ponto de jogar comida fora. O que se joga em casa, vai para o minhocário ou para o centro de reciclagem. Realmente nós nos preocupamos com a manutenção do equilíbrio do planeta. Uso o húmus de minhoca como fertilizante das plantas que crio em vasos. E tenho obtido ótimos resultados. Infelizmente, não tenho muito espaço de terra em casa, talvez apenas um metro quadrado de jardim. Mas cultivo plantas em vasos. Não sou nenhuma jardineira, mas a pandemia me trouxe esta vivência mais de perto.
Amo o planeta e a natureza, por isso valorizo a agricultura familiar, compro produtos vendidos pelo MST mais próximo. Aliás, o assentamento Marielle em Valinhos, já foi tema de um dos meus artigos. Aprendi com o isolamento social que o planeta pode se equilibrar muito bem, se o ser humano tratá-lo com mais respeito e cuidado. A parte que faço é pequena, mas se todos fizessem já viveríamos num paraíso.
Outra coisa que aprendi com a pandemia, foi conversar com os vendedores de semáforos e ouvir os pedintes. Às vezes, consigo ajudá-los um pouco e às vezes só demonstro empatia mesmo. Outro dia, ouvi uma lição de otimismo de um vendedor de balas no semáforo. Eu olhei suas balas, mas estou sempre sem dinheiro, então não pude comprar nenhuma. Apenas conversei com ele e demonstrei empatia, desejando-lhe sorte. Aí, ele me perguntou como estava sendo meu dia, ainda eram onze da manhã, mas já tinha tido um dia corrido. Eu respondi que meu dia estava corrido. Ao que ele me respondeu: Sabe o que é preocupação? É uma pré ocupação. Então, eu parei, pensei e lhe agradeci, concordando que ele estava certo. Senti tanta fraternidade naquele momento, que marcou minha vida. Por isso, cheguei à conclusão de que jamais devemos julgar as pessoas, afinal, todos sempre podem dar algo, mesmo palavras de sabedoria. Senti todo o amor do universo neste momento.
Hum, adoro ficção científica, porque é um gênero que une minha curiosidade pela ciência e a literatura, que foi minha primeira área escolhida. Às vezes, assisto a episódios de Star Trek. A geração do Capitão Picard é a minha favorita. Acho o capitão muito mais sábio do que o Capitão Kirk. E sua conselheira é fantástica com toda a sua sensibilidade e visão do futuro. Estas séries demonstram como a arte prevê o futuro. Como sempre podem ensinar. Com certeza, algumas pessoas questionariam como se pode escolher um produto da indústria cultural como objeto de ensino-aprendizagem. Mas a arte é um produto cultural. Muitas vezes veiculado na mídia, outras vezes nem chega a ser veiculado. A televisão, o rádio, a internet. os blogs, os podcasts, os sites, e todos os outros aplicativos podem ser utilizados para a aprendizagem. Claro que depende do professor ou docente possuir a afinidade para usá-los e saber que como possuem características diferentes, todos chegam a um tipo de público diferente e veiculam informações de modo diferente.
Quando li o livro da Daniela Bonafé, Contos para o fim do mundo, eu lhe perguntei se tinha escrito antes da pandemia ou depois. Afinal, existem várias características semelhantes por lá. E ela me disse que um dia acordou com toda a ideia e começou a escrever desenfreadamente. O que resultou no seu livro de contos que também pode ser um romance de ficção científica, dependendo de como é olhado. Bem, isso já define suas características mais marcantes para mim. E volto a repetir: “a vida imita a arte ou a arte imita a via”? Não lembro com certeza, mas acho que até Shakespeare escreveu sobre isso há quase 500 anos. Temos também o exemplo de Leonardo Da Vinci, cujas visões do avião, do canhão, da metralhadora, entre outros inventos científicos, foi um dos primeiros a desenhar sobre isso. Assim, como foi um dos primeiros a desenhar os órgãos do corpo humano. Eu até li sobre ele e seu trabalho, antes de começar a entalhar minhas matrizes de órgãos.
Bem, para concluir neste momento, preocupo-me com a educação e procuro escrever sobre isso, já que tenho tanta vivência na sala de aula. Tenho muito carinho pelos alunos, mas não tenho mais a mesma paciência que já tive com os alunos rebeldes e mal educados, que mais do que nunca precisam de limites, porque para eles dar limite é uma prova de amor. Eu sei disso, mas sinceramente. Só tenho paciência e atenção com as coisas bonitas, com as quais eu possa aprender também. Prefiro os gestos de carinho e amor. Ouço qualquer reivindicação ou crítica se forem feitas com atenção e respeito. Gosto de dar chance à humanidade das pessoas e não à violência, à agressão, ao desrespeito, à malandragem.
Por isso, passei a tomar antidepressivo, ter crises de depressão e ansiedade. Sentir até mesmo meu coração desembestar seus batimentos quando estou muito tensa. Isso realmente faz com que eu pense um milhão de vezes antes de entrar numa sala de aula. Além do que, como disse minha amiga, prefiro dedicar mais tempo na criação de coisas belas e agradáveis. Já me aposentei, então não tenho vontade de continuar. Dinheiro? Todos precisam mas enquanto temos como sobreviver, ninguém é maluco de passar sofrimento por causa disso. Apenas em caso de sobrevivência mesmo. Prefiro abrir um dos excelentes livros que tenho em casa e sonhar com um mundo mais humano, mais empático, mais feliz, com mais justiça social e mais fé na humanidade. Salve GAIA!
Por fim, esqueço de explicar que nestes tempos em que descobrimos toda sujeira colocada embaixo dos armários, na política, na sociedade, na justiça, no governo; não basta tomar antidepressivo ou ansiolítico, também pratico yoga todos os dias e faço meditação, pelo menos três vezes ao dia. Mesmo assim, é difícil olhar as coisas tristes e feias ao redor sem tomar uma atitude para melhorar. É difícil deixar de apoiar as causas com as quais eu concordo. É difícil deixar de expressar minhas ideias ou sentimentos. É difícil deixar de apoiar os amigos. Estamos todos juntos nesta. Somos todos seres humanos e precisamos nos aceitar e respeitar, considerando o que temos de melhor como pessoas. A fé na vida e o amor por todos os seres. Sou dona de dois cachorros e já tive dois gatos, que fugiram. Amo os animais. Tenho uma criação de minhocas em casa. Então, somos todos um. Acredito nisso e vivo desta forma. Não deixando de ter autocrítica a minha falhas e erros, que são muitos. Acreditemos e sigamos em frente. O amor é a força e a luz que nos guia!
Até aqui, acho que já deu para me conhecer um pouco, não é?! Ou pelo menos, como, o quê e porquê escrevo. Sempre pronta para um diálogo e uma troca de ideias, podem escrever seus comentários!
A coluna Cavando Ideias é semanal e sempre traz textos inéditos. Silvia F Lima é professora, artista e sua xilogravuras estão à venda em seu site. Para conhecer mais do trabalho dela, confira o site pessoal em https://www.silviaferreiralima.com