JANERAKA
Retomada Awaete
Awaete. Gente de Verdade. É assim que nosso povo se autodenomina. Com apenas 48 anos de contato, nós, Assurini do Xingu, como somos chamados, carregamos um histórico de resistência e luta junto a profundas marcas provocadas pelos impactados do contato com a civilização não indígena e seu desenvolvimento.
Localizados no Médio Xingu, encontrados pelos padres no ano de inauguração de Rodovia Transamazônica, em 1972, os anos seguintes foram marcados por envenenamentos durante a ditadura quando chegamos a 52 indígenas nos anos 80. Na sequência, o assédio de pesquisadores acadêmicos, governo, madeireiros, mineradores, empresários e evangélicos só pioraram com a construção da Hidrelétrica de Belo Monte e a mineradora Canadense Belo Sun.
Atualmente nosso povo e território, homologado e demarcado, que compartilhamos com indígenas isolados, continuam a sofrer com os assédios já citados e invasões com loteamentos ilegais. Agora mais do que nunca, necessitamos, para nossa sobrevivência física e cultural, construirmos um outro diálogo, decolonizado, com a sociedade brasileira, pois salvaguardamos conhecimentos e territórios fundamentais para nós e para o mundo.
Há 4 anos, buscando entender que cultura é essa que vem chegando em meu território, a partir do encontro com demais povos da terra e da floresta, sobreviventes ao progresso, criei junto a minha companheira Carla Romano, o projeto “Agenda Awaete – Troca de Saberes Assurini do Xingu/PA”. Um circuito de “Descobrimento do Brasil” onde nos conectamos com diversas práticas e saberes, buscando o fortalecimento a partir da reflexão e conscientização do nosso passado, presente e o que queremos para o futuro. Assim, criamos uma rede de conexões através do processo de ativação com as sinapses de gaia e cada vez mais precisamos expandir e fortalecer.
Passando por 4 estados brasileiros, com mais de 300 atividades, ora propondo ora interagindo com as já existentes, dialogando com pessoas, grupos e instituições que buscam a construção de uma cultura regenerativa, começamos nossa jornada, sem muita pretensão, de forma autônoma, sem cnpj ou burocracias “karai” (não indígena), apenas acreditando na força das conexões com corações que já perceberam a importância da Amazônia e seus povos, conscientes do risco para o Brasil e o mundo da perda de nossos conhecimentos.
Corações que identificaram a importância da reflexão das práticas de consumo dominantes e o quanto é fundamental para decolonização a autonomia de nossas ações independente de garantias financeiras, governo e instituições burocráticas.
Nesta caminhada, destacamos atividades como “Tecendo Saberes” e “Vivência de Cerâmica” onde buscamos a valorização das práticas e os saberes tradicionais do nosso povo. Além de atividades de Permacultura e Agrofloresta, onde nos conectamos com grupos e pessoas conscientes da importância da recuperação de conhecimentos tradicionais que já estão no movimento de diálogo com outras culturas, trocando saberes com os karai difundindo conhecimentos de formas sustentáveis de ocupar o planeta.
Agora, mais conectado e consciente, após um chamado de meus ancestrais, chegou o momento de retornar ao meu território e frutificar toda essa experiência e conhecimento, com meu povo e começar um novo ciclo. Buscando a construção de alternativas aos desafios. Pensando não só no meu povo, mas também nos isolados, nas 11 etnias que temos em nosso entorno, ribeirinhos e demais povos da terra e da floresta.
Assim, nosso objetivo é unir forças para a decolonização de nosso povo junto a demais povos da floresta frente a conhecimentos autodestrutivos que buscam a nossa aculturação para o fortalecimento do capital industrial, a partir da autonomia mais do que financeira da produção e consumo usando tecnologias e conhecimentos de origem de nossos recursos naturais.
Nesta etapa, precisamos arrecadar recursos para iniciar o processo de base que consiste no apoio intitucional para o nosso recente criado instituto Janeraka, apoio logística e construção de um Espaço de Troca de Saberes que será um ponto de conexão na floresta da Agenda Awaete, onde nosso objetivo será o fortalecimento das práticas não só da cultura tradicional Awaete mas também dos demais povos da terra e da floresta. Para isso precisamos de apoio para a criação e envolvimento com processos autônomos a partir da união dos conhecimentos tradicionais a demais tecnologias sociais nas áreas principalmente de bioarquitetura, saneamento ecológico, agrofloresta, energias renováveis, além de uma estação de monitoramento territorial. Além da criação de um ponto de acolhimento na cidade de Altamira para dar assistência aos indígenas em especial mulheres e crianças que ficam vulneráveis aos riscos da cidade quando precisam de acesso a serviços de saúde, bancários entre outros.
Temos 3 Conexões para Constelação:
Janeraka – Aldeia 2 Pajés
(T.I. Koatinemo, Altamira/PA)
Janeraka – Casa de Acolhimento da Família Marytykwawara
(Altamira/PA)
Janeraka – Casa de Acolhimento e Residência Artística para Povos da Floresta em Trânsito
(Belém/PA)
O projeto de troca de saberes da agenda Awaete que nos envolvemos nesses últimos 4 anos e que transcendeu para esse novo ciclo de retorno ao nosso território buscando agora retornar essas conexões para fortalecê-lo não só pela nossa importância para nós mesmos, mas como para o mundo como guardiões dos rios e das florestas, do ar e das águas que precisamos para a vida!
Série de podcasts Janeraka
Retomada Awaete – Episódio 1
Retomada Awaete- Episódio 2
Retomada Awaete – Episódio 3
Retomada Awaete – Episódio 4
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