Baixaria Sonora – 10 discos para ouvir na quarentena

Baixaria Sonora: 10 discos para ouvir na quarentena

Baixaria Sonora - 10 discos para ouvir na quarentena

Jean Paz escreve sua coluna Baixaria Sonora todas as terças-feiras aqui, na Expedição CoMMúsica. Leia mais textos do Jean no blog Baixaria Sonora.

 

10 discos para ouvir na quarentena

Ano passado, quando achávamos que a quarentena duraria pouco tempo, viralizaram algumas brincadeiras em que os usuários de redes sociais, desafiados por seus amigos deveriam listar listas de discos, livros e jogadores.

Como gosto de comprar discos (não me considero colecionador porque não cometo nenhum absurdo para adquirir discos), cai de cabeça na brincadeira.

E fiquei tão feliz com a brincadeira, que compartilho com vocês.

Seguem abaixo 10 álbuns que me influenciaram e definiram meu gosto pela música. (Na brincadeira, eu deveria apontar um álbum por dia, durante 10 dias consecutivos. Sem explicações ou reviews, apenas a capa do disco. Mas como sou teimoso, acabei fazendo alguns apontamentos).

Sem mais delongas, peço para que me acompanhem nessa viagem musical repleta de distorção e nostalgia.

1. Novos Baianos Acabou Chorare

Começo com esse que é um disco perfeito. E aproveito para homenagear o eterno Moraes Moreira, que nos deixou em abril.

Eu sempre quis ser um Novo Baiano. Mas como nasci no Rio Grande do Sul, na década de 80 e toco mal, isso não foi possível.

Esse disco junta tanta coisa boa, que é difícil apontar um destaque apenas.

Seriam as letras do Galvão, as composições do Moraes, o canto do Paulinho, o carisma da Baby, os solos do Pepeu ou o instrumental dos outros músicos do grupo?

Vou optar por destacar a coragem. Que uniu o grupo em um sítio e mais adiante permitiu que seu experimentalismo se encontrasse com o erudito de João Gilberto. Acontecimento que influenciou diretamente a composição das canções do disco.

Reza a lenda que em breve sairá um texto novo aqui sobre Moraes, OS Novos Baianos, Rider e Sopão Maggi.

(Aquele do caldo nobre da galinha azul).

Um som: A Menina Dança. Porque se deus tivesse voz, ele teria a voz da Baby.

 

2. Sonic Youth – Goo

Essa banda influenciou não só a mim como a uma geração inteira de músicos, incluindo um certo Kurt Donald Cobain.

Minha cabeça nunca mais foi a mesma depois que ouvi esse disco. E nem a forma como absorvo acordes e harmonias. Lembro que a primeira vez que me apaixonei pela Kim Gordon, foi por volta de 1999, quando a vi no telão de uma balada chamada “Radar” que existia na cidade de Alvorada e que intercalava clipes de rock com “gruda, gruda na cintura da moleca” enquanto adolescentes com hormônios a flor da pele só queriam encher a cara de keep cooler e beijar na boca.

E eu, alheio ao que acontecia ao meu redor, fiquei hipnotizado vendo o clipe de Little Trouble Girl. Mas demorei para associar “o nome à pessoa”.

Quando percebi que aquela mulher era a mesma que tocava baixo no Gol, me apaixonei em definitivo. E agora, mais de 20 anos depois, graças ao Goo e a tudo que eles gravaram depois, Sonic Youth é a minha religião.

Um som: Mildred Pierce. Amor à primeira audição.

 

3. Secos e Molhados, de 1973

Um disco que merece ser ouvido de início ao fim, com o máximo de atenção possível.

A voz de Ney Matogrosso é algo fora do normal.

Cada nota emociona e arrepia.

E encanta a cada audição.

Outro destaque são as letras poéticas e provocativas.

Um disco da série: Eu amo mas não tenho.

Um som: Emocionante ouvir Ney cantando sobre seu “sangue, seus mortos e seus caminhos tortos” em meio a uma ditadura militar sanguinária que ceifou centenas de vidas e de sonhos.

 

4. Rage Against the Machine

O primeiro álbum de estúdio do Rage Against the Machine juntou os versos raivosos de Zack La Rocha ao instrumental pesado comandado pela guitarra imprevisível de Tom Morello criaram um estilo que influenciou muitas bandas que surgiram depois. (Pena que a grande maioria não tinha o mesmo punch) e agradou aos fãs de rock e aos fãs de rap.

Menos aqueles que acham que música e política não se misturam.

(Saudades de ficar vendo o clipe de “Killing in the name passando no telão do Bar Opinião antes da Tequila Baby subir ao palco, né minha filha?)

É mais um disco da série: Eu amo mas não tenho.

Um som: A música que alavancou a carreira da banda. Uma música que é um chute no rim dos reacionários. Impossível ouvir esse som, tão necessário nos dias atuais, e não sentir vontade de protestar contra esse sistema podre que nos governa.

 

5. Chico Science e Nação Zumbi – Da Lama ao Caos

O primeiro álbum de estúdio de Chico Science e Nação Zumbi é um marco na história da música brasileira.

Combina riffs potentes, batidas hipnóticas e a poesia pra lá de afiada de um artista inquieto que nos deixou cedo demais.

A banda conseguiu sintetizar nossos males sociais em 11 músicas de tirar o fôlego e recolocou Recife no centro das atenções.

E ainda globalizou o Maracatu, que hoje em dia é tocado pelo mundo inteiro, graças ao pioneirismo das alfaias pesadas da Nação Zumbi.

Um som: “Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor” devia substituir o “Ordem e Progresso” na bandeira nacional.

 

6. Led Zeppelin 4

Este me influenciou muito. Muito mesmo.

Ao ponto de eu homenagear John Paul Jones com uma tatuagem.

É mais um disco que eu amo, e que eu não tenho.

De uma banda que eu amo e que não sei tocar nenhum som.

Só tem clássicos ali.

As melhores músicas da melhor banda, com os melhores instrumentistas da época.

Entre as diversas lendas que cercam a banda, há uma que diz que os integrantes dos Rolling Stones acompanharam de perto as gravações do álbum.

Em 2003 ou 2004 esse disco esteve nas minhas mãos por 5$ num Sebo da Avenida Borges de Medeiros em Porto Alegre. Ele estava numa mão e o Nevermind estava na outra. Como eu só tinha 6$, tive que sortear. E deu Nirvana.

Depois eu nunca mais consegui comprá-lo.

Um som: O arranjo de cordas desse som é surreal. A voz do Plant idem. É uma música para se ouvir na rua, na chuva, na fazenda, na estrada…com a mente limpa e o coração tranquilo.

 

7. O Usuário – Planet Hemp

Uma banda que misturava raprocknrollpsicodeliahardcoreragga e jogou na cara da sociedade todas as hipocrisias que estavam embaixo do seu tapete.

Cada letra é uma aula de história.

Eu era um adolescente e graças a eles aprendi que a guerra às drogas só interessa a quem está no poder. E os poderosos em questão tentavam tirar a credibilidade da banda alegando que eles só falavam sobre maconha.

Por mais que os cães ladrem, a caravana não pára (mesmo com alguns percalços, como a prisão dos integrantes, em 1997). E o Planet tá na ativa até hoje. Seus integrantes seguem mandando bronca em seus projetos pessoais. E parece que em breve teremos um disco inédito.

Aguardamos ansiosamente.

Um som: A mais polêmica do disco, com a banda versando sobre a necessidade de liberar uma erva natural que não pode te prejudicar.

 

8. The Doors, de 1967

Esse eu ouvia em uma K7 pirata e foi o disco de estréia de uma das minhas bandas preferidas.

Dessa vez o combo poesia/hamormonias hipnóticas se encontra com a figura carismática e controversa de um dos maiores frontman de todos os tempos:

Jim Morrison. Embora se considerasse mais poeta do que vocalista, sua voz inconfundível, suas letras ímpares, suas performances incendiárias, seu temperamento explosivo e seu total descomprometimento com a moral e os bons costumes seduziram a todos e a todas que cruzaram seu caminho.

Um som: A mais clichê. Porque eu sou clichê e o amor é clichê.

 

9. Legião Urbana, de 1985

A Legião Urbana me fez querer montar minha primeira banda, a Estado Inevitável, em meados de 2005.

Eu nem sabia tocar direito (até hoje não sei) e passava horas brisando nos encartes dos discos da banda, admirando aquelas letras maravilhosas do Renato. E escrevendo poemas e letras com o intuito de musicar posteriormente. Até hoje não musiquei.

É impressionante que essas letras, escritas a quase 40 anos atrás se mantenham atuais até hoje. Nossos problemas ainda são os mesmos e mais uma vez flertamos com um governo composto por milicos.

Um som: A canção que homenageia o grupo Baader-Meinhof, braço armado do exército vermelho (Rote Armee Fraktion) que atuou entre os anos de 1970 e 1998 na Alemanha.

 

10. Nirvana – Nevermind

Esse eu tinha no meu acervo e hoje não tenho mais.

Assim como muita gente da minha idade, foram os acordes iniciais de “Smells” que me fizeram querer ter uma banda.

Mas como me falta coordenação para tocar guitarra, migrei para o baixo. Nesse quesito, “Lithium” é a referência desse disco.

Nevermind marca o amadurecimento musical de uma banda que após um bom tempo havia conseguido chegar à sua formação ideal, com Dave Grohl na bateria.

E conseguiu unir toda a agressividade do álbum de estréia com melodias de fácil aceitação, que podiam ser assoviadas tranquilamente.

As letras de Kurt são precisas e abordam temas delicados como estupro, machismo e depressão, sem perder a ternura jamais.

Um dia, quando tudo isso passar, e eu tiver um tempinho livro, vou juntar uns amigos e montar a “Nirvânia”, para tocar umas versões dessas canções.

Um som: Uma música agressiva que fala sobre marcar território, em uma crítica aberta ao machismo. Para chutar o rabo dos fascistas, misóginos, homofóbicos e machistas de plantão.


Expedição CoMMúsica

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