Conta Comigo entrevista a escritora Carol Aguiar
Esta semana, a Coluna Conta Comigo! dá continuidade à série de entrevistas com as autoras do livro “De Corpo Inteiras”, coletânea escrita por sete integrantes do Coletivo Escreviventes, tendo como inspiração as partes do corpo feminino.
Confira mais sobre a coletânea “De Corpo Inteiras” no artigo “Autoras independentes lançam livro inspirado no corpo feminino.”
A escritora da vez é Carol Aguiar.
Conheça a autora:
Sou de Fortaleza-CE, psicóloga, doutoranda em Psicologia, escritora (4 livros publicados), amante da Língua Portuguesa, educadora, clínica, cientista, artista, mãe, sensatez, sentimento e uma tentativa diária de integrar tudo isso e muito mais, para que convivam harmonicamente e com ajuda mútua.
Conta Comigo entrevista a escritora Carol Aguiar
O que levou você para o mundo da escrita?
Acho que esse foi um lado positivo da minha timidez. Era bem mais fácil para mim interagir com livros e histórias mil do que com pessoas. Não tardou para, também, preferir me expressar escrevendo que falando. Sempre me saía melhor na primeira alternativa. Fui aperfeiçoando cada vez mais a escrita como uma forma de me colocar no mundo (consequentemente, existir) apesar da timidez. Paralelamente, tive uma influência muito forte do meu pai e da minha família paterna de modo geral, tanto no gosto pela leitura e pela Língua Portuguesa quanto na habilidade com a escrita.
Na sua opinião, qual é a maior dificuldade entre as autoras contemporâneas ao escrever e publicar suas obras?
O fato de a contemporaneidade nos pedir uma versatilidade de talentos e habilidades, além da que é nosso foco, ou seja, não basta sermos escritoras, por exemplo; precisamos entender de marketing (para divulgar e vender os livros), networking (para sermos “vistas e lembradas”), design (para criar material de divulgação, de redes sociais, etc.), contabilidade (para entender de precificação, impostos…), Direito (cessão de direitos, uso de imagens, registro das obras), tecnologias de informação virtuais (para aumentar o alcance dos livros), etc. Não dá para terceirizar tudo e, ainda assim, precisamos entender e fazer pelo menos o básico disso tudo e mais.
Como é a experiência de fazer parte de um coletivo de mulheres escritoras como o Coletivo Escreviventes?
Gente, é uma potência sem tamanho! Quase todo dia, nas discussões e trocas do Coletivo, eu ainda me surpreendo e solto uns “que incrível o que ela tá dizendo/produzindo”! Sinto que cresci demais como escritora a partir dos olhares e retornos das outras integrantes e, também, de suas escritas, conhecimentos, diversidades. Resumiria com a palavra encorajamento.
Qual foi o maior desafio ao se escrever sobre o corpo feminino?
Acho que silenciar para ouvir esse corpo, que é tão cheio de imposições externas sobre como ele deve ser em vários sentidos que a própria voz dele se perde, ou é roubada, ou ignorada. Fora isso, falar sobre corpo feminino sendo escritorA é falar da gente, da nossa história, singular, mas, também, coletiva nas experiências sociais femininas, que contribuem muito para moldar esse corpo. Assim, é tocar em pontos nossos muito íntimos às vezes. Nem sempre, é fácil, mas tem um potencial terapêutico enorme também.
Conte como foi o seu processo criativo em um dos contos presentes na coletânea “De Corpo Inteiras”.
Na história intitulada “Torcendo (pel)o nariz”, eu comecei pensando em várias expressões populares que ouvimos acerca dessa parte do corpo. A integração que consegui fazer entre elas veio muito do que tenho percebido nos meus atendimentos diários como psicóloga, um assunto que veio à tona bem forte para mim também com a maternidade. Na maternidade também é evidente o cuidado com nossa criança interior.
Como a Ariane Osshiro bem coloca, “a infância é o chão onde a gente pisa a vida inteira”. Todos nós temos feridas infantis, e algumas vivências, como a maternidade, por excelência, cutuca-as diretamente, e daí podem surgir reações super disfuncionais e até adoecedoras – para a própria pessoa ou para quem está perto, especialmente, para os filhos.
Daí a importância de cuidarmos dessa parte da gente, para que a criança que fomos e que vive em nós possa ser muito mais potente, criativa, espontânea do que ferida, afinal, cedo ou tarde, mais nítida ou menos nitidamente, ela aparece nas nossas atitudes.
Esse tema tem sido muito caro para mim, e ele transbordou para a história da Isabel, protagonista desse meu conto na coletânea.
O que significa para você ser uma escritora mulher em um mundo ainda dominado pelos homens?
Responsabilidade social de chamar atenção para as desigualdades de gênero adoecedoras. E isso pode ser feito de formas diversas com a escrita, seja no conteúdo, nos personagens, nas entrelinhas, nos bastidores, nas divulgações etc.
Qual dica você daria para as mulheres que desejam começar a escrever?
Leiam, estudem (escrever não é só inspiração e dom), se juntem a outras mulheres com o mesmo propósito.
Cite uma frase marcante de um dos seus contos.
Poderemos (re)definir o amor, os trabalhos, os relacionamentos, a economia, a política.
A vida.
A relação primeira entre nós será a base disso tudo.
(De Peito Aberto)
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