Roqueiros da Espanha se mobilizam contra o fascismo
Este movimento começou recentemente, com um breve chamado para unir-se contra o fascismo, feito por Fernando Madina do Reincidentes e Óscar Sancho do Lujuria. Ele pediu que “Se você faz parte de um grupo musical, de uma mídia musical ou de uma sala de concertos e deseja assinar o manifesto, você pode nos contatar através da página do Twitter @rockcontraelfa1 ou enviando uma mensagem privada no Facebook para Oscar Sancho Rubio”.
Que manifesto? Continue lendo e você vai descobrir.
Em poucos dias, mais de 200 bandas se juntaram à proposta (isto quando este texto foi enviado para publicação, na quinta-feira, 08/04/2021). Os organizadores estabeleceram um prazo para comunicar a adesão: 14 de abril, dia em que o Manifesto será tornado público, que apresentará o espírito e as estruturas com as quais eles lutarão pela música a partir da música.
Pela primeira vez, os dois artistas nos enviam o rascunho do Manifesto e nos permitem publicá-lo. Precisamente para “deixar as pessoas saberem do que se trata”, diz Óscar Sancho. Embora a forma como o fazem seja que qualquer banda, entidade ou grupo que trabalha para a música, que gostaria de ler o comunicado – porque estão interessados em fazer parte dele -, eles o enviariam a eles sem qualquer problema.
Abaixo publicamos o Manifesto e uma nota explicativa final escrita pelos dois músicos, tão conhecidos e amados no cenário do rock nacional e internacional. Aviso-os que a nota é importante. Meu olfato de anos me diz que algo grande está vindo (e que os “proprietários de terras” e os “amos” devem começar a ter medo disso).
Projeto de manifesto
“O ROCK GRITA! AGORA E SEMPRE, FASCISMO NÃO!
“Pertencemos a um coletivo que sabe que o futuro será feminista ou não será porque a palavra que nos une, que nos define, é MÚSICA, no feminino: somos MÚSICA.
Pertencemos a um coletivo que está passando por um momento difícil nesta pandemia. Sentimo-nos como pessoas abandonadas a um destino incerto por nosso modo de vida e também incertas para ganhar, em muitos casos, nossa VIDA. Aprendemos que a UNIDADE e o compromisso um com o outro são necessários AGORA mais do que nunca. Que somos uma voz única que representa as PESSOAS e que somente as pessoas estão salvando as pessoas.
Pertencemos a um coletivo que aprendeu a distinguir as promessas vazias das verdades necessárias.
Precisamos distinguir aqueles que prometem, para seu próprio interesse, o que não vão entregar daqueles que realmente ajudarão o povo.
Pertencemos a um coletivo que tem sido criticado, repudiado e marginalizado desde que nasceu porque viemos para dizer VERDADES, para denunciar privilégios que geram desigualdade. Viemos em busca de igualdade, equidade, LIBERDADE, fraternidade. Denunciamos aquelas pessoas que, nas palavras de Metallica, são os “master of puppets”, ou seja, “donos das marionetes”, e, por essa razão, não gostam de nós.
Não somos uma moda, não somos um “movimento” ou uma corrente, nem mesmo uma contracorrente, não somos “organizados”. Aprendemos a viver como uma tribo, somos uma tribo (uma comunidade irmanada).
Aprendemos a viver com o desdém daqueles que não se importam conosco porque não se importam com os outros e estamos orgulhosos disso e estamos orgulhosos disso.
Somos índios em um filme de cowboy, somos os que têm marcas e tinturas, os que têm os cabelos esquisitos, os que amam a mãe terra… Somos ingovernáveis, impossíveis de domar… Selvagens contra a adversidade, a injustiça e o desprezo… Somos todas as tribos: Cheyenne, Lakota, Apache, Arapahoe, Seminole, Cherokee, Sioux, Comanche… Somos todas as tribos diferentes, mas estamos unidos pela mesma luta. Esta luta que nos faz uma só voz contra o fascismo em todas as suas formas. Levantamos nossa voz não apenas contra o fascismo dos “bigodinhos”, das mãos erguidas e rígidas, aquele fascismo que usava câmaras de gás, campos de concentração ou exterminações de todo tipo… Levantamos nossa voz contra o fascismo que se encobre, aquele fascismo que se disfarça de “lobo em pele de cordeiro”, aquele fascismo que mostra seu casco debaixo da porta de cada uma de nossas casas. Esse fascismo no qual uma mulher nega que a violência masculina existe enquanto proclama que a violência não tem gênero. Aquele fascismo onde vemos uma pessoa cuja pele é negra gritando que não há racismo. Vemos que não se fala de IGUALDADE, de igualdade necessária para que sejamos LIVRES como pessoas. Somente por sermos iguais e livres podemos ser igualmente livres.
SOMOS A TRIBO DO ROCK. Nascemos comprometidos com o ser humano, nunca saímos de moda. Hoje, pedimos a você que medite bem. Os riscos são altos. A máscara do fascismo deve cair. Não se deixe enganar pelas mensagens fáceis que geram desigualdade e privilégio.
SOMOS A TRIBO DO ROCK e hoje queremos dizer-lhes, acreditamos que é necessário dizer-lhes: o fascismo deve ser parado. É URGENTE PARAR O FASCISMO em todas as suas formas. Nossa tribo vai colocar suas guitarras e suas vozes para gritá-lo, alto e claro. Se você ouvir o que cantamos, se concordar com nossa mensagem, pedimos-lhe que faça o mesmo. Mostre que uma canção não é apenas uma canção e VOCÊ, e nós, nos sentiremos melhor.
Se há uma coisa que o ROCK tem sido, desde que nasceu, a partir de sua semente no Blues escravo, é ANTIFASCISTA.
OBRIGADO POR LER ESTE MANIFESTO! OBRIGADO POR COMPARTILHAR NOSSA MENSAGEM!
NÃO AO FASCISMO!
Fernando Madina. REINCIDENTES.
Óscar Sancho. LUJÚRIA”.
Tanto Fernando como Óscar quiseram acrescentar algumas observações – fora do manifesto -, que também publicamos:
“Queremos deixar algumas coisas claras:
Para ser ANTIFASCISTA, NÃO é necessário assinar este manifesto. Além disso, há grupos que estão nesta luta há décadas e não têm nada a provar. Assine quem quiser, porque quer e quem não assinar terá suas respeitáveis razões, viemos a acrescentar.
Não vamos permitir que nenhum partido politize nosso manifesto. Pessoalmente, cada um de nós tem suas próprias ideias, alguns votam em um partido, outros em outro, outros decidem que não votar é o caminho e há até mesmo aqueles que balançam, eles não suportam o fascismo e não vão mais longe. TUDO É RESPEITÁVEL. Este manifesto é apenas um registro que o rock repudia o fascismo e, contra ele, nos verá unidas e unidos.
Este manifesto não pretende ficar aqui, ele pretende avançar, unidos, até onde todos nós decidimos ir. Associar-nos, coletivizar esta luta e evitar protagonismos desnecessários. Não somos um exército com um general (ou dois) na frente, somos os índios cavalgando em paralelo e sacudindo nossas canções até limpar nossa terra de fascismo.
Não permitiremos que, como resultado de tudo isso, sejam feitas listas negras ou que alguém seja apontado por ser ou não ser. Nunca acreditamos em listas (nem mesmo em listas de sucesso) e não acreditamos em fazer listas agora. Somos o Rock!
SOU PORQUE SOMOS.
SEMPRE ANTIFASCISTAS.
VIVA AO ROCK!
ANOTAÇÃO PARA TERMINAR:
Como dito no início, quem quer que deseje aderir, pode fazê-lo através da página do Twitter @rockcontraelfa1 ou enviando uma mensagem privada no Facebook para Oscar Sancho Rubio. Além disso, caso tenham algum problema por esses canais, eles poderiam fazê-lo, eventualmente, escrevendo para lujuriarock@hotmail.com.
Tanto o escritor desta nota – como escritor e poeta que sou – quanto o meio em que escrevo (El Periodic) estão unidos nesta luta tribal contra a sombra que procura escurecer tudo e que só quer parar a dança dos séculos, aquela dança tão musical e tão aberta que nos torna livres e diversificados, aquela que traz as primaveras.
Tradução > Liberto