Conta Comigo • A Primeira Escritora
Você sabe quem foi a primeira escritora do Brasil? Lia na coluna Conta Comigo!, de Michele Machado Fernandes.
Fala de um professor meu do cursinho: a primeira escritora brasileira foi Rachel de Queiroz, autora de “O Quinze” (1930), mas é possível que algum homem de sua família fosse o legítimo escritor da obra, já que, segundo ele, a autora apresentava características de escrita masculina.
Até hoje reflito sobre a falta de informação. Na verdade, ela foi a primeira mulher a ser aceita na Academia Brasileira de Letras, em 1977, quando a ABL aceitou passar a admitir mulheres em seu seleto grupo. Antes disso, a escritora Júlia Lopes de Almeida havia participado do grupo fundador da ABL (1897), mas foi excluída de última hora e substituída pelo seu marido.
Maria Firmina dos Reis – negra, abolicionista e professora – muitas vezes é citada como a escritora mais antiga de nosso país. Na realidade, depois de ter o seu nome esquecido por mais de um século, foi reconhecida por ser a primeira mulher a publicar um romance no Brasil: “Úrsula”, em 1853.
Devido à escassez de material, não há precisão sobre quem foi a verdadeira pioneira das letras no Brasil.
Algumas candidatas:
– Rita Joana de Sousa (PE – séc. XVIII): Os seus manuscritos desapareceram, portanto não se pode definir a data.
– Teresa Margarida da Silva e Orta (SP – 1711/1793): Foi a primeira mulher brasileira a escrever ficção ao publicar “Aventuras de Diófanes”. A autora viveu desde menina em Portugal, portanto não publicou no Brasil.
– Ângela do Amaral Rangel, a Ceguinha, (RJ – 1725/?): Foi provavelmente a primeira mulher a publicar poemas. A sua deficiência visual torna a sua façanha ainda mais meritosa.
– Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira (MG – 1759/1819): A sua obra foi destruída quando a sua casa foi revistada devido a sua participação na Conjuração Mineira. Algumas pesquisas atribuem, no entanto, a verdadeira autoria dos seus poemas ao marido Alvarenga Peixoto. Oficialmente, ela teria enlouquecido após o exílio do marido. Hoje os historiadores acreditam que ela teria alegado demência para conseguir manter pelo menos parte dos bens confiscados por ser inconfidente.
A importância em se pesquisar o tema está no fato de observarmos que produções literárias feitas por mulheres são minoria não por falta de escritoras, mas por um forte movimento que oprime e apaga essa produção.
Você sabe quem foi a primeira mulher escritora do mundo?
Se você pensou em Jane Austen, passou longe. É uma grande escritora do início do século XIX e uma das mais antigas que ainda faz sucesso nas livrarias, com obras relevantes com “Orgulho e Preconceito”.
No entanto, antes dela, na Inglaterra, autoras como Clara Reeve, Ann Radcliffe e Sophia Lee publicaram seus romances ainda no século XVIII.
Bem antes disso, porém, a escritora japonesa conhecida como Murasaki Shikibu foi uma romancista de destaque. Ela atuou como dama de companhia na corte imperial durante o período Heian. A sua obra mais popular é “A História dos Genji”, escrita aproximadamente entre 1000 e 1012, que se considera o primeiro romance escrito por uma mulher. O seu estilo irônico e intimista gera comparações com Jane Austen e Virginia Woolf.
No entanto, ainda antes disso, a poetisa grega conhecida como Safo de Lesbos (séc. VII a. C.) deixava o seu nome impresso na lírica grega (poemas feitos para se ler em público acompanhados pela melodia de uma lira). Safo também é famosa – e polêmica – por ter criado uma escola só para mulheres.
No entanto, Safo não foi a primeira escritora. Esta é bem mais antiga e foi também a primeira pessoa a ter o seu nome identificado como autor de alguma obra escrita.
Sim! O primeiro escritor do mundo foi uma mulher!
O seu nome era Enheduanna. Ela viveu no século XXIII a.C., na Mesopotâmia. Foi uma princesa, sacerdotisa, filósofa e poetisa. O seu pai, o Rei Sargão, o Grande, foi o fundador da dinastia acadiana e conquistou as cidades-estados sumérias. O seu império se estendia por toda a Mesopotâmia (hoje Irã, Iraque e Síria).
Enheduanna fez parte do governo do irmão, o rei Rimus. A princesa teria se envolvido em turbulências políticas e, em decorrência disso, teria sido banida e posteriormente restituída ao seu cargo de alta sacerdotisa. Sobre esse tema fala o seu canto “A Exaltação de Inana”.
Mesmo depois da morte, Enheduanna continuou sendo lembrada como uma figura importante do reino e é a escritora mais antiga entre homens e mulheres a ter a sua obra com autoria identificada.
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