Conta Comigo • O que as autoras nos falam sobre escrita

Conta Comigo • O que as autoras nos falam sobre escrita

 

Por: Michele Fernandes

 

Conta Comigo • O que as autoras nos falam sobre escrita
Conta Comigo • O que as autoras nos falam sobre escrita

 

Nessa jornada sobre literatura de autoria feminina, tentar entender o que as mulheres pensam sobre a escrita serve de parâmetro para as autoras que estão chegando.

Resolvi, assim, compilar algumas frases e reflexões registradas em obras de diversas autoras. Começo pela mestra Virginia Woolf. Em “Um Teto Todo Seu”, a autora apresenta um retrospecto e uma crítica à forma como a escrita feminina foi tratada durante os séculos.

Destaco:

“É fatal para uma mulher colocar a mínima ênfase em qualquer ressentimento; advogar, mesmo com justiça, qualquer causa; de qualquer modo, falar conscientemente como mulher.”

O trecho salienta o quanto a nossa essência está impressa em nosso jeito de escrever e não há como fugir disso.
Recentemente, li “Autobiografia Precoce”, de Patrícia Galvão, a Pagu. Ainda nas primeiras páginas, a autora observa na procrastinação uma forma de se esconder dos detalhes a serem escritos, que trarão um encontro com a sua essência mais verdadeira.

“Talvez eu não devesse começar o meu relatório hoje. Com olhos de sol. Que preguiça de pensar. A longa história cansa. Não será ainda uma modalidade de fuga?”

No meio do conto “A Residente”, do livro “O Corpo Dela E Outras Farras”, a autora Carmen Maria Machado, por meio de sua personagem que também é escritora, reflete sobre a diferença nas cobranças recebidas pelas mulheres no meio literário.

“Homens podem escrever autobiografias disfarçadas, mas eu não posso fazer o mesmo? Se eu fizer é ego?”

No trecho abaixo, de “Sistina”, conto de “O Tempo, Esse Grande Escultor”, de Marguerite Yourcenar, encontramos apontamentos sobre a escultura sob uma ambientação renascentista, mas a reflexão pode também ser transposta à literatura:

“Toda a minha vida, busquei respostas a perguntas, que talvez nem tenham respostas, e talhei o mármore como se a verdade estivesse oculta no coração das pedras, e dispunha cores na pintura das paredes, como se se tratasse de aplicar acordes a um silêncio demasiado grande.”

A autora revela, portanto, necessidade de vencer o silêncio.
Encerro com a minha citação preferida, de Clarice Lispector, em “A Hora da Estrela”:

“Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o desespero. E só agora quereria ter o que eu tivesse sido e não fui.”

A consciência de ser mulher, estar excluída das vantagens geradas pelo patriarcado, o encontro com a essência, a busca de respostas, a vitória sobre o silêncio, perceber-se como alguém que sobrou no mundo… Todas essas inquietações norteiam a literatura produzida por mulheres e estar ciente de que nossas diferenças são justamente a motivação para a escrita é um ponto em comum a todas essas mulheres.

 

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