Cavando Ideias • Feiras são espaço de cultura
Cavando Ideias • Feiras são espaço de cultura é artigo de Silvia ferreira Lima em sua coluna semanal na Expedição CoMMúsica e no texto de hoje apresenta o evento de estreia do coletivo de artesãos e artistas plásticos de Campinas e reunidos sob o nome ‘Jardim Aberto Coletivo’. A proposta do grupo de artistas é a criação de um circuito de feiras e exposições coletivas na região e adjacências. O período de isolamento durante a pandemia os aproximou e, agora, surgem os frutos. Além da proposta do Jardim Aberto Coletivo, Silvia divulga mais duas Feiras, todas em meados de dezembro. Confira as datas e locais.
Já faz alguns dias que tenho pensado bastante neste assunto. Na verdade, desde outubro, quando começaram as inscrições para a participação de feiras em espaços culturais, galerias, praças públicas e universidades. Sem contar, nós que vivemos de arte, então, uma festa, uma feira, uma reunião cultural é sempre uma ótima ocasião para expormos nosso trabalho.
Confesso que tenho entrado em contado com várias feiras, por participar de vários grupos de artistas de Campinas, onde eu vivo, e arredores. Nossos grupos, de princípio pensaram em se unir para começar a reivindicar da prefeitura espaços culturais e artísticos onde pudéssemos expor nossos trabalhos, fazermos nossos espetáculos ou apresentações. Ou ainda, espaços de reunião de artistas até para propormos oficinas de criatividade ou cursos. O que já seria, pelo menos uma opção de ganharmos alguma coisa.
O mais incrível é considerar que eu comecei a me reunir com, digamos assim, meus iguais, a partir do momento da pandemia; quando muitos caíram no desespero devido ao isolamento social, uma vez que não tínhamos nem condições de organizar exposições, ou feiras. Dou ênfase à importância das feiras, lembrando do que aprendi com um dos meus professores de Mestrado na PUC/SP, o Prof. Dr. Amálio Pinheiro. Suas aulas eram o puro hedonismo! Declamava maravilhosos poemas, que ele mesmo traduzia. Sempre enfatizava a cultura latino-americana, formada pela diferenciação da cultura europeia, com uma releitura criativa. A mesma releitura criativa que motivou a Tropicália (Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé), na década de 60.
Lembro de o Prof. Amálio falar muito sobre tudo isso, de traduzir vários poetas do espanhol como Cesar Vallejo, Rafael Alberti, Jorge Guillen, entre outros. Lembro de conversar sobre sua teoria da mistificação barroca latino-americana. E no meio de tudo isso, lembro de comentar como as feiras eram um espaço popular e cultural. O que, aliás, também fazia referência à cultural popular medieval europeia de Bakthin, com a carnavalização. Cujas características parecem ter iniciado no Brasil desde o Barroco, misturando a arte de povos originários, impressionante, que já me inspira naturalmente. Com a riqueza e o brilho do ouro obtido em solo Brasileiro, ou melhor, mineiro, do Estado de Minas Gerais com toda sua expliração. Além disso, tivemos logo de início a obtenção da cor vermelha, que não era comum na Europa, a não ser pelos altos membros da Igreja. O que por outro lado, era muito utilizada pelos povos originários. O que quase extinguiu o pau-brasil.
Bem, comecei a viver a ambientação das feiras e a riqueza de trocas, festas, experiências, contatos, logo depois da pandemia, em fins de 2021, depois de já vacinada, tendo vivido um luto doloroso com a morte do meu pai pela covid. Meu primeiro momento para sair de casa, foi para expor meus trabalhos confeccionados e impressos desde 2015. Quando ouvi o canto da sereia da Arte, mergulhei no oceano e deixei suas ondas dirigirem meu destino. Meus pés criaram nadadeiras, minhas narinas criaram guelras. Limpei as dores da alma, tranformei-me em outra sereia e passei a ser feliz.
Senti muita felicidade, ainda usando máscara, por expôr meus trabalhos e falar sobre eles. Foi uma receptividade muito positiva de quem se aproximou e ouviu minha explicação. E também consegui vender mais do que tive que pagar para participar da feira no Pavão Cultural, um espaço de exposição e apresentação de shows. Neste ano, participei da feira novamente, e pude sentir outro lado: a importância de entrar em contato com colegas artistas e criarmos um ‘Jardim Aberto Coletivo’, com o objetivo de organizarmos mais feiras em diferentes espaços para vendermos nossos trabalhos, trocarmos ideias e experiências. Além disso, passou a ser uma oportunidade de oferecermos oficinas artísticas para um público interessado.
Claro que a vida de artista não é nada fácil e quando conseguimos nos unir para trabalharmos em conjunto, como neste caso, principalmente montando feiras e oficinas, já podemos garantir certo ganho de vida para, pelo menos, compramos o material de que necessitamos para fazermos nossos trabalhos, ou até alugarmos máquinas como prensas especiais, o que acontece quando se imprime gravuras em metal, ou em certas ocasiões, gravuras maiores do que conseguimos imprimir. Não conseguimos fazer a mágica de transformar a matéria do nada, a não ser que possamos investir dinheiro nisso. Sim, infelizmente, o mundo do sonho depende ainda da moeda, embora várias pessoas como eu; também sonhem com o momento em que simplesmente possamos concretizar nossas ideias, apenas manipulando nossos desejos, vontade e energia suprema.
Outra lição importante é sempre trabalhar em conjunto para se propor coisas novas e mais complexas que não poderiam ser realizadas individualmente. Sim, os artistas sempre possuem uma necessidade individual. Mas são mais fortes quando se unem para trabalhar juntos e abrirem espaços para todos.
Nosso Jardim Aberto já começa com duas feiras e exposições marcadas para dia 17 de dezembro, a partir das 18 horas em Barão Geraldo, na Rua Antônio Hossri, 48 Cidade Universitária – Campinas. E também no dia 21 no Goma/ Flamenco ao redor da Praça do Coco em Barão Geraldo também.
Esta escritora, que fala com vocês agora, quer fazer divulgação das duas datas muito importantes acima, pois são do nosso grupo de artistas. Mas também quer divulgar mais duas feiras das quais vai participar em dezembro, último mês do ano, com festas, confraternização e feiras de Natal. Então, venho divulgar o calendário abaixo. Fazendo um grande convite a todos neste período anterior ao Natal. E concluindo minhas ideias com a necessidade do trabalho conjunto de todos os artistas para que possamos viver do que realmente amamos, e que é tão difícil! E ao mesmo tempo deixar marcado a toda a população da necessidade de se passear por feiras, conhecer o trabalho dos artistas, fazer comentários, e muitas vezes nos colocarmos no mundo de sonhos que todo artista propõe. Afinal, vou reforçar que os artistas são a antena da raça, devido a sua sensibilidade para sentir e apresentar a toda sociedade formas diferentes de nos organizarmos e vivermos mais felizes. E, acima de tudo, vivermos em harmonia com todos, na aceitação e respeito pelas diferenças, nas trocas emocionais e ideais. no trabalho conjunto. Só assim começamos a construção de um futuro realmente melhor para todos!
Serviço:
Casarão Cândido
Mercado & Bossa
Dia 15 de dezembro de 2022 _ quinta-feira
Horário: das 15 às 21 horas
Endereço: Rua Ernesto Ziggiatti, 195 no Vila Verde Campinas
Jardim Aberto
Dia 17 de dezembro de 2022 – sábado
Horário : Das 18 às 23 horas
Endereço: Rua Antônio Hossri, 48 Cidade Universitária, Barão Geraldo Campinas/SP
Goma
Dia: 21 de dezembro de 2022 – quarta-feira
Horário: Das 18 às 22 horas
Endereço: Praça do Coco ao redor
Para mais informações sobre os eventos, fale diretamente com a Silvia Ferreira Lima:
Referências teóricas:
http://poesiatraduzida.com.br/amalio-pinheiro/
PINHEIRO, Amálio. América Latina: Barroco, Cidade, Jornal. Ed. Intermeios. São Paulo
https://novaescola.org.br/conteudo/1621/mikhail-bakhtin-o-filosofo-do-dialogo
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo. Martins Fontes, 2003.
BAKHTIN, Mikhail .A cultura popular na idade média e no renascimento: O contexto de françois rabelais. Ed. Hucitec, 7ª ed. 2010.