Semearte • Qual o segredo da vida?
Semearte • Qual o segredo da vida? é artigo de Érika Ramos em sua coluna semanal na Expedição CoMMúsica. Toda semana um conteúdo sobre escrita criativa e o de hoje é sobre o papel, a caneta e sair escrevendo.
Como eu assumi pra mim mesma o papel de embaixadora da criatividade, com ênfase na escrita criativa. Decidi mergulhar de cabeça no assunto.
E assistindo a um vídeo de criatividade, o seguinte comentário me chamou a atenção:
“Qual o segredo da vida? Papel, caneta e sair escrevendo.”
Anotei no meu caderno de ideias e me peguei pensando nessa ideia por um longo tempo. Fazia tempos que algo não me incomodava de um jeito positivo e essa ideia ficou circulando minha vida até que eu aceitasse que ela precisava ganhar a minha versão.
Por vezes, eu escrevo no computador ou celular, e peço desculpas a você, leitor que está lendo esse texto, porque escolhi a praticidade do formato ao invés da minha forma favorita de escrita: papel e caneta. Enfim, a vida não é perfeita e, por vezes, é melhor seguir o lema: continue a nadar.
Melhor colocar a ideia pra fora, do que ter noites insones com ela implorando para ser escrita.
A escrita é a forma mais genuína que tenho para me expressar, através das palavras eu junto ideias que a principio podem parecer desconexas, mas que com meu jeito único se encaixam e formam uma bela história.
Por isso, papel, caneta e sair escrevendo fez tanto sentido pra mim. Como escritora raiz, eu tenho vários cadernos e os uso para explorar minha criatividade, desenvolver rascunhos e fazer anotações de meus estudos, referências e ideias para serem usadas num segundo momento.
Na minha jornada, eu tive uma formação acadêmica em letras, o que aumentou ainda mais minha paixão pela literatura e até pouco tempo atrás só consumia livros físicos, sim, eu tinha preconceito com e-books.
Porém, o advento pandemia + kindle chegou na minha vida e eu me peguei aproveitando várias promoções e conhecendo muitas histórias que não teria oportunidade se não tivesse aberto a minha mente.
Sim, eu ainda prefiro os físicos, principalmente aqueles que falam sobre criatividade ou têm ilustrações. Eles me passam mais estímulos e me incentivam a marcar as partes favoritas e a fazer anotações nas bordas.
Peço desculpas caso você ache que livro não deve ser marcado, mas em meu processo criativo, eu descobri que aprendo mais com essas pequenas intervenções. Não digo que é certo, nem errado, cada pessoa encontra seu modo de transbordar com os estímulos de um livro.
Agora já que estamos falando em intervenções artísticas, como escritora, eu vejo que há inúmeras formas de contar uma história. Desde as breves como minicontos e haicais, e as longas, como romance. Cabe a nós, como usuários da língua, descobrir como funciona para nós.
Portanto, vamos entender os três elementos que provocaram a escrita desse texto:
1- Papel: Ao longo da história já teve vários formatos e ainda hoje encontramos alguns mais simples, de carta, especiais para desenhos e colagem, para dobradura e sempre foram um estímulo para que eu fizesse arte em diversas formas.
Quando criança, a minha dobradura favorita era fazer um piano, eu aprendi isso num livro de dobraduras e se tinha um papel dando bobeira, ele ia pra minha coleção de pianos de papel.
Outra coisa que eu gostava de fazer era escrever um diário, durante anos mantive esse hábito narrando os fatos mais importantes da minha vida, como a primeira paixão, a peça que eu fiz na escola, o bullying que me deixava em pedaços.
O problema é que na adolescência eu achei que só tinha besteira nesses diários e me desfiz deles. Hoje vejo que apaguei um pedaço da minha história e do meu jeito de escrita.
Atualmente não mantenho um diário oficialmente, mas pratico escrever com certa frequência sobre minha vida e sentimentos, isso me ajuda a explorar meu interior e a curar as minhas dores.
2- Caneta:
Por que esse elemento é tão importante a ponto de me fazer ter vários cadernos?
Por que tendo acesso a formas tecnológicas de escrever tem textos que só nascem pela força da caneta?
Porque a caneta desenvolve estímulos e coordenação motora únicos que ajudam no desenvolvimento das ideias do cérebro.
Você ja reparou que leva alguns segundos para digitar uma mensagem? Mas que se for escrevê-la no papel a dinâmica muda?
O papel faz você se preocupar com a caligrafia, com a pessoa que vai receber e até mesmo permite intervenções como desenhos, adesivos ou perfumes.
Logo, vemos que tudo fica mais pessoal no papel, e este ainda desperta aquela sensação de nostalgia de trocar bilhetes dentro de sala sem que o professor percebesse.
É, eu venho de um tempo que não tinha celular pra trocar mensagens, o jeito era sempre arrancar as folhas do caderno para se comunicar com os amigos.
Posso estar sendo cringe, ou preciosista demais, porém meu comportamento foi moldado pelas experiências pelas quais passei ao longo da vida.
E na minha época havia até caderno de perguntas e respostas para a gente se conhecer melhor, hoje em dia está tudo exposto no instagram e, sinceramente, isso quebra a magia para mim.
Não estou dizendo para você parar de usar o insta, eu também estou lá, mas as vezes eu ainda sinto falta de conexões mais profundas em meio a toda tecnologia que possuímos.
Logo, desafio você que me lê a escrever algo em papel e caneta, pode ser uma carta, um conto, ou um bilhete pro mozão. E veja como a sua reação muda ao produzir assim e também como a pessoa que recebe sua mensagem vai reagir.
3- Sair escrevendo:
Eu acho que o tópico anterior invadiu um pouco o setor da escrita, mas não tem problema. Aqui está tudo interligado e, por vezes, os limites são tênues.
Na infância, eu era a mestre de cerimônia das brincadeiras, na minha cabeça sempre tinha um faz-de-conta pronto para minhas bonecas ou amigos encenarem.
Livros e gibis fizeram parte da minha formação como escritora, conforme crescia, eles ganharam cada vez mais espaço na minha vida e nas minhas atividades.
Meus professores sempre elogiavam as minhas redações, e lá pela 7ª / 8 ª série eu comecei a me interessar por poesia. E a louca dos cadernos atacou mais uma vez, precisava de um caderno exclusivo para minhas poesias. E assim comprei meu caderno, lembro até hoje da capa de ursinho que ele possuía e como era confortante ter aquele espaço para me expressar. Ainda que eu não tivesse coragem para mostrar meus textos à época.
A escrita foi cada vez mais presente na minha vida e hoje eu me tornei escritora. Porém, sinto que minha criatividade é estimulada para além apenas da escrita, estou descobrindo que há um mundo muito vasto e que posso explorá-lo se não me limitar apenas a um rótulo.
Portanto, eu acho que a escrita é apenas a porta pela qual eu me permiti entrar no universo da criatividade, e quando já dentro, descobri o leque infinito de possibilidades de criar.
Se você não se sente confortável escrevendo de início, te convido a descobrir quais elementos são seu papel, caneta e sair escrevendo para transformar a sua realidade em algo mais divertido.
A vida não é pra ser preto no branco, e exclusiva para pagar boletos, há um universo de possibilidades esperando você pra se manifestar.
Conclusão:
Papel, caneta e sair escrevendo se tornou um lema para mim. Pois, mesmo que inconsciente, isso já fazia parte do meu dia a dia desde pequena. Hoje se tornou minha profissão e propósito de vida.
Não acredito que foi por acaso, mas por curiosidade, amor as palavras e Persistência que me levaram a chegar onde estou.
A escrita sempre me permitiu ser eu mesma, nunca cobrou nada de mim, nem me julgou. Foi acolhedora e me fez companhia em momentos vazios.
Então, separe seu papel, caneta e saia escrevendo e expresse a sua arte.