Orquestra Sinfônica de Jerusalém em Campinas
Orquestra Sinfônica de Jerusalém em Campinas é resenha de Silvia Ferreira Lima em sua coluna semanal Cavando Ideias.
São Paulo, 30 de agosto de 2022 – Começando a reabertura dos espaços culturais com shows e exposições, tivemos o privilégio de assistir no Teatro Carlos Gomes, em Campinas, um concerto da Orquestra Sinfônica de Jerusalém com a regência do maestro Yeruham Scharovsky, que nos surpreendeu positivamente. O maestro é argentino, onde começou estudando flauta, contrabaixo, composição e direção com professores do Conservatório Nacional de Música de Buenos Aires e do Teatro Colón, como Alfredo Montanaro, na flauta; Alberto Bellomo, no contrabaixo e Jacobo Ficher, em composição.
Em 1970, ele ganhou uma bolsa de estudos da Academia Superior de Música de Rubin, de Jerusalém, onde fez seus estudos superiores de música, com o renomado professor Mendi Rodan.
Em 1990, ele foi escolhido por Zubin Mehta para receber o prêmio de Jovem Artista do Ano e, consequentemente, regeu o concerto de Gala da Orquestra Filarmônica de Israel. Isso só para começar a descrever sua carreira de sucesso.
Mas o que nos tocou emocionalmente como plateia foi sua conversa em português, perfeito, assim como o relato de que tinha estado no Rio de Janeiro, como idealizador e orquestrador da Orquestra Sinfônica Jovem Brasileira entre 1998 e 2004. Além do fato de ter começado o repertório regendo a metade do hino nacional brasileiro. O que também tocou nosso coração depois de termos passado desde 2018 com nossos símbolos nacionais associados a um líder destruidor do que estava bom e justo até então. Além disso, fazia parte de seu repertório tocar O Guarani, de Carlos Gomes, logo no início. O que, de fato, começou depois do que imagino ter sido tocado o hino de Israel. Neste ponto, peço perdão pela minha ignorância, apenas julgo pela manifestação de vários presentes, que fizeram o mesmo tipo de reverência àquela prestada ao hino nacional.
Outra estrela da apresentação foi a violoncelista Danielle Akta, nomeada pelo Daily Gazette como uma das dez melhores artistas de música clássica em 2016. Solista ativa desde cedo, atualmente estuda com o Prof. Frans Helmerson na Academia de Música Barenboim-Said em Berlim. Em 2016, foi também agraciada pelo Prêmio Jovem Artista. Com seu destaque, enquanto tocava violoncelo, nunca ouvira como um violoncelo podia produzir um som tão magnífico. Suave, com alguns graves, mas não demais, e alguns agudos, mas jamais agressivos. Como observadora de sua maestria, senti-me no paraíso ouvindo o som dos anjos. Fantasias, é claro, rs. Apenas lembrei o quanto meu pai adorava ouvir orquestras, o que fazia muito através de alguns canais de televisão, isso quando não o fazia com CDs ou long plays e toca discos, que eu cheguei a utilizar.
Foi um espetáculo emocionante e maravilhoso, em que havia um intervalo de quinze minutos previstos. Mas o tempo da apresentação da Danielle estava marcado apenas para a primeira parte, quando foi executado o concerto para violoncelo e orquestra em mi menor op.85 de Edward Elgar e, antes do intervalo, ela voltou e tocou com alguns colegas da orquestra o Tico-tico no Fubá, um chorinho composto por Zequinha de Abreu e imortalizado na voz de Carmem Miranda. Maravilhoso! Realmente, pude ver como há coisas brasileiras surpreendentes, que devem ser valorizadas não apenas pelo mundo afora, assim como pelos próprios brasileiros. Ajudou a levantar e a melhorar o otimismo e o amor à pátria depois dessas manifestações.
Vale a pena citar que a prodígia violoncelista utiliza um instrumento Enrico Orselli (1891-1955), graciosamente colocado à sua disposição pelo Dr. Moshe Kantor através da Fundação Internacional Valdmir Spivakov. A beleza de seu violoncelo pode ser observada de longe, principalmente se comparada com os outros violoncelos da orquestra. Existe uma história na confecção de instrumentos musicais de qualidade, como no caso deste violoncelo, pelo próprio Enrico Orselli, que escolhia madeiras adequadas e as preparava com lixamento e vernizes adequados para ressoar ainda mais. Além da qualidade e precisão das cordas. Essa escolha e manipulação é tão individual, que uma vez morto o artesão, jamais será feito um instrumento de igual qualidade e produção sonora. Bem, quem está na plateia, ou ouve uma música, pode não ter noção de como o trabalho individual é inigualável. Assim, desde a morte de Enrico, jamais será feito um instrumento da mesma qualidade. Por isso, esses instrumentos são valorizados com o passar do tempo, como obras de arte e apenas ricos colecionadores podem possuí-los. Curiosamente, em 2020, este violoncelo estava por volta de 10 mil dólares. Seu som vale cada centavo. Garanto!
O simpático maestro Yeruham, chegou a fazer um bis, pedindo-nos para cantarmos o hino nacional brasileiro, porque ele gostava muito da sinfonia. Ele o tocou inteiramente e a plateia cantou. Foi um momento muito sensível para todos. Teria sido histórico se tivesse sido televisionado e mais pessoas pudesse ter assistido. Foi uma oportunidade ímpar. Talvez para comemorar o fato de podermos começar a sair de casa e a limparmos nossas almas dos sentimentos de tristeza, raiva, revolta, injustiça, e muitas outras dores, para sentirmos apenas como podemos presenciar e viver energias tão belas e plenas.
Conseguimos os ingressos através da Unicamp, mas descobrimos que os espetáculos no Teatro Carlos Gomes de Campinas (que é muito bonito!) podem ser comprados na plataforma Sympla, através da internet. E que o retorno da oportunidade de voltarmos a sermos felizes vendo coisas bonitas voltou. Então, vamos aproveitar. E ao mesmo tempo, vale a lição, de aprendermos a valorizar o que está próximo de nós, o que podemos desfrutar e tornar nossos dias mais felizes.
Mostro a fotografia apenas do catálogo, uma vez que não podíamos fotografar o espetáculo.
Dia 28 de agosto, eles se apresentaram na sala São Paulo, na cidade.
Referências: Sympla